Escuridão.
Não a comum, não o fim — mas aquela densa e ancestral, onde até os deuses perdem seus nomes.
Zeus flutuava nela. Ou afundava. Difícil dizer.
O corpo não pesava mais. O som dos trovões em sua alma estava distante, abafado… como se o próprio raio tivesse esquecido dele.
Mas algo mudava.
Uma vibração. Uma ruptura no silêncio. O tempo, aquele que obedecia apenas aos deuses, agora sussurrava de forma errada. Fora de ordem.
E então — um rasgo.
A luz rompeu o vazio como uma lâmina. Um raio sem origem. E no centro da escuridão, ele abriu os olhos.
Zeus.
O peito arfou com o primeiro sopro como se o ar do mundo tivesse sido arrancado de volta para os pulmões dele. Os olhos, antes fechados à existência, agora ardiam como estrelas vingativas.
— “…Cronos.”
Ele não soube como soube. Mas sentiu.
O Olimpo estava desequilibrado. A balança havia virado — não por justiça, mas por vingança.
Ele se ergueu.
O chão sob seus pés era feito de pedra negra rachada, os ecos da velha guerra sussurrando debaixo da pele do mundo. Cinzas ainda caíam do céu, como o luto dos titãs ressuscitados.
As mãos de Zeus tremiam. Mas não de fraqueza. De fúria contida.
— “Você deveria ter apodrecido no Tártaro, pai…” — murmurou, olhando para o céu manchado.
O ar ao redor chiou com eletricidade. A barba de Zeus se agitou como se ventos antigos gritassem seu nome. Relâmpagos começaram a se formar, instáveis, selvagens — como se o próprio mundo se lembrasse dele.
Mas o Olimpo… não era mais o mesmo.
Ele viu. De longe. Torres antes douradas agora marcadas com runas titânicas. Estátuas arrancadas. Tronos mudados.
Cronos reinava.
Zeus fechou os punhos. E o céu rugiu.
— “Você quer tomar de volta o que eu tirei de você…” A voz cresceu, em grave ressonância com o trovão. — “…então venha me encarar, pai dos monstros.”
Relâmpagos caíram ao redor dele. E por um instante, o mundo pareceu hesitar.
Porque Zeus havia voltado. Não mais como o soberano tranquilo. Mas como o fogo que não aceita apagar.
O céu se abriu.
E o Rei do Olimpo subiu outra vez — não para reinar. Mas para guerrear.