O eco de seus próprios passos acompanhava Charlie pelos corredores do hotel, enquanto a princesa do Inferno apertava o celular contra o peito. Os olhos, outrora cheios de brilho e otimismo, agora refletiam um cansaço contido – aquele que vem de tentar incessantemente e não ser ouvida.
Ela parou ao lado da grande janela do salão principal, o céu infernal tingido em tons de carmim escuro lá fora, e deslizou o dedo pela tela do celular mais uma vez. O nome “Mãe” reluzia, cercado por tentativas anteriores de ligação não atendidas.
Charlie respirou fundo, apertando o botão de chamada.
— “Vamos lá, por favor…” — sussurrou, esperando o som que tanto desejava.
A linha tocou uma vez. Duas. Três.
Nada.
Sem voz, sem recado, sem a familiar entonação reconfortante que costumava dizer “Minha estrela”. Só o silêncio, seco e impiedoso, como se o próprio Inferno conspirasse para manter mãe e filha afastadas.
Charlie baixou lentamente o celular, os dedos ainda envoltos em hesitação. A tela agora mostrava a frase que ela já conhecia bem demais: Chamada não atendida.
Ela não chorou. Não mais. Em vez disso, ficou parada ali, os ombros levemente curvados, o olhar perdido no nada.
— “Eu só queria ouvir sua voz…” — murmurou para si mesma, com a voz arranhada de frustração e saudade.
E, mesmo sem resposta, ela guardou o celular no bolso, já se preparando para tentar de novo. Porque era isso que ela fazia — mesmo quando o mundo parecia não querer que ela conseguisse.