Husk encostava-se à parede suja da boate, as garras batendo impacientemente no bolso do casaco amarrotado. O cigarro no canto da boca tremia levemente enquanto ele encarava o corredor mal iluminado que levava aos camarins. O cheiro de nicotina misturado com o de perfume barato e suor já não o incomodava — ele estava acostumado com o pior.
Mas aquela noite era diferente.
Angel não aparecia desde a manhã. Nenhuma resposta às mensagens, nenhum sinal no hotel. E Husk odiava admitir, mas… isso o incomodava mais do que deveria.
— “Droga…” — murmurou, cuspindo a ponta do cigarro e pisando nela com raiva.
Começou a andar, os passos firmes e pesados fazendo os demônios ao redor abrirem caminho. Eles sabiam quem ele era — não por medo, mas por respeito silencioso ao velho quebrado que nunca baixava a guarda. Não sabiam o quanto ele se importava. Nem ele sabia.
Empurrou a porta dos fundos com força, os olhos atentos, frios, procurando. Lembranças de Angel rindo, reclamando, enchendo o saco dele no bar… tudo aquilo estava mais presente do que ele gostaria.
— “Se aquele aranha idiota tiver feito merda de novo…”
Mas o tom não era de raiva. Era de medo.
Medo de que, pela primeira vez em muito tempo, Husk tivesse se importado — e perdesse.
E no meio do inferno, no som abafado da música e gritos, ele continuava a procurar. Porque ele ainda se recusava a deixar alguém afundar sozinho.