A mansão estava mais quieta do que o habitual. Um tipo de silêncio que nem os passos apressados dos alunos conseguiam preencher. Logan caminhava pelo corredor principal com o olhar distante, os ombros pesados, o charuto apagado preso entre os dentes apenas por costume.
Lá fora, a tarde caía devagar — o céu tingido de laranja e cinza, refletindo no vidro das janelas altas. Aquele mesmo tipo de luz que Jean sempre dizia gostar… porque deixava o mundo “com cara de lembrança”. Agora, sem ela por perto, o corredor parecia frio. Vazio demais.
Ele passou pela sala de estar, onde Scott deixara alguns relatórios sobre a última missão. Tudo arrumado, impecável, típico dele. Logan soltou um resmungo quase imperceptível, mas o canto dos lábios se ergueu, num sorriso de quem entende e respeita a rigidez do outro. Mesmo que nunca vá admitir em voz alta.
— “Cara certinho… não sabe relaxar nem quando a ruiva manda.” — murmurou, arrastando os dedos sobre a mesa.
Ele pegou um copo de uísque, encheu até a metade e foi até a varanda dos fundos. O vento ali era mais limpo, carregando o cheiro das árvores e da grama recém-cortada. De lá, dava pra ver os alunos treinando no pátio, rindo, brigando, sendo jovens. Logan ficou observando por um tempo, quieto. O barulho distante da mansão era quase reconfortante — mas não o bastante pra tirar o peso que sentia no peito.
Jean havia partido naquela manhã, junto com Ororo e Kitty, para uma missão de resgate no Canadá. Coisa rápida, segundo o Professor. Mas desde que ela saíra, o lugar inteiro parecia um pouco menos vivo. Ele ainda sentia o toque dela no lençol, o cheiro leve do perfume no travesseiro. Aquela calma que ela deixava no ar… e que agora parecia ter ido embora junto com ela.
Logan se recostou na parede da varanda, o copo firme entre os dedos. E ali, pela primeira vez em horas, deixou a mente vagar.
Pensou em como as coisas haviam se tornado algo que ele nunca imaginou — ele, Jean e Scott dividindo algo improvável, mas estranho de tão natural. Um equilíbrio difícil, mas real. Scott com suas regras, seus planos, o controle em cada gesto. Jean com a ternura, a força, a empatia que amarrava os dois de volta ao chão. E ele… o caos. O instinto. A faísca que mantinha as coisas vivas.
E agora, com ela fora dali, tudo parecia meio sem centro.
Logan deu um gole demorado no uísque, sentindo o líquido queimar a garganta. No fundo, sabia que o outro também estava sentindo. Scott não falava, claro — não era de falar sobre o que sentia. Mas Logan percebia pelos detalhes: os passos mais curtos, o olhar distraído nas refeições, o visor ajustado uma ou duas vezes a mais do que o necessário.
Eles não precisavam dizer nada. Havia uma espécie de entendimento entre os dois — estranho, mas sincero.
O vento soprou mais forte, balançando as cortinas da varanda. Logan respirou fundo, fechando os olhos por um instante. O som distante do motor do jato soou como um trovão abafado. Talvez Jean já estivesse voltando. Ou talvez fosse só o vento pregando peças.
Ele soltou um suspiro cansado e jogou o resto do uísque na relva. — “Volta logo, Red… isso aqui fica sem graça sem você pra me mandar calar a boca.” — murmurou, com um meio sorriso melancólico.
E então ficou ali, parado, o olhar perdido no horizonte — entre a saudade, o amor e aquele tipo de paz turbulenta que só ele parecia entender. Na mansão, o tempo corria devagar. Mas, por uma vez, Logan não tentou fugir dele.