O quinjet pairava sobre Nova York, envolto pelo zumbido constante dos motores e o brilho das luzes urbanas que subiam como um mar de estrelas artificiais. Lá dentro, o ar era pesado — um silêncio denso que nem o som da turbina conseguia romper. Jean Grey permanecia sentada perto da janela, o cinto de segurança frouxo, os olhos fixos no reflexo do próprio rosto no vidro escuro.
Lá embaixo, o Edifício Baxter se erguia — o lugar onde Reed e o Quarteto Fantástico esperavam para tentar ajudá-la. Mas o simples pensamento de sair da nave fazia o estômago dela se revirar.
O mundo fora do quinjet parecia hostil. E ela… não confiava mais em si mesma para estar nele.
Jean apertou as mãos contra os joelhos, os dedos trêmulos. As luvas de tecido não escondiam o leve brilho que escapava por baixo delas — uma centelha vermelha, viva, pulsante. Ela prendeu a respiração, tentando conter o calor que subia pela pele, mas quanto mais tentava, mais sentia a Fênix reagir — impaciente, como uma fera presa dentro de uma jaula.
O som abafado das vozes dos outros X-Men vinha do compartimento à frente — Ororo coordenando a descida, Scott discutindo com Logan. E mesmo de longe, Jean conseguia ouvir tudo. As palavras, as emoções, o medo mascarado de preocupação.
“Ela está instável demais.” “A gente precisa agir rápido.” “Scott, não pressione ela.”
Jean cerrou os olhos, o queixo tremendo. O metal da nave vibrou levemente quando o poder escapou num impulso involuntário — uma corrente telecinética que fez as paredes rangerem e os cintos flutuarem por um segundo. Ela fechou as mãos com força e sussurrou, quase implorando: — “Para… por favor, para.”
O fogo recuou. Lentamente. Como se zombasse da tentativa.
Ela inspirou fundo, as lágrimas ardendo nos olhos, e apoiou a testa contra o vidro frio. Lá fora, as nuvens se abriam, revelando as luzes do topo do edifício, o ponto de encontro — e o medo cresceu dentro dela, sufocante.
“Eles acham que podem te consertar.” “Você não está doente, Jean. Você é a cura.”
A voz da Fênix sussurrou em sua mente como uma melodia distante. Ela a ignorou, mordendo o lábio, tentando pensar em qualquer coisa humana — o toque de Scott, o riso de Kurt, a voz suave de Charles. Mas tudo parecia longínquo agora, como se ela observasse a própria vida de fora, presa num corpo que não sabia mais se era seu.
As portas do compartimento dianteiro se abriram, e o som dos passos ecoou. Scott parou à entrada, chamando o nome dela, a voz carregada de cuidado e medo.
Jean não respondeu. Nem olhou.
Ela apenas continuou ali — imóvel, os olhos marejados fixos na cidade abaixo, as chamas contidas sob a pele. O fogo queria sair. O poder queria cair do céu como um cometa.
Mas ela ficou. Sozinha, presa entre o desejo de descer… e o terror de destruir tudo o que amava se desse mais um passo fora da nave.
E enquanto o quinjet pairava, imóvel no ar, Jean Grey se manteve em silêncio — uma deusa em guerra consigo mesma, tentando lembrar como se respira.