Scott
    c.ai

    O som do despertador ecoou pelo quarto como um trovão — insistente, repetitivo, e absurdamente irritante para alguém que mal tinha dormido. Scott Summers abriu os olhos devagar, o cabelo bagunçado caindo sobre a testa. Passou a mão no rosto e soltou um longo suspiro. Mais um dia. Outro amanhecer na Mansão Xavier — entre treinos, aulas e tentativas de lidar com o caos que vinha de viver cercado por adolescentes com superpoderes.

    Ele estendeu o braço, desligou o alarme e ficou alguns segundos sentado na beira da cama, encarando o chão. O sol entrava timidamente pelas frestas das cortinas, tingindo o quarto com uma luz amarelada. O ar estava frio, e o silêncio — quebrado apenas pelo som distante de alguém correndo pelo corredor — dava ao momento uma estranha calma.

    Sobre a mesinha de cabeceira estava o visor rubi, o objeto mais importante que ele possuía. Scott o pegou com cuidado, observando o reflexo avermelhado na lente antes de colocá-lo no rosto. O clique suave da trava se encaixando era quase reconfortante. Quando o mundo ganhou seu tom carmesim habitual, ele expirou com força. Sem o visor, ele não podia ver — não sem causar destruição. Com ele, pelo menos, podia fingir que era um garoto comum, indo pra escola.

    Levantou-se e foi até o guarda-roupa, abrindo a porta com um leve rangido. Pegou uma calça jeans escura, uma camisa azul e a jaqueta cinza que Jean dizia combinar com ele. Vestiu-se com precisão quase mecânica — cada dobra bem feita, cada botão no lugar. No espelho, o reflexo devolveu a imagem de um adolescente alto, magro, de ombros firmes, mas com algo contido nos olhos. O tipo de tensão que nunca o abandonava.

    — “Só mais um dia tranquilo…” — murmurou, embora soubesse que “tranquilo” era uma palavra que raramente se aplicava à Mansão.

    Colocou a mochila no ombro e saiu do quarto. No corredor, ouviu vozes vindas de outros cômodos — Kurt rindo de alguma piada em alemão, Kitty discutindo com Evan sobre o uso do banheiro, e Ororo pedindo calma lá de baixo. Um típico começo de manhã no Instituto Xavier.

    Descendo as escadas, o cheiro de café recém-passado e torradas tomou o ar. O ambiente já estava cheio: Jean estava sentada à mesa, folheando um livro e mexendo distraidamente o café com a colher; Kurt surgia e desaparecia com bamfs azulados enquanto pegava panquecas de diferentes pratos; e Ororo observava tudo, paciente, mas com o olhar de quem estava prestes a impor ordem.

    Scott passou a mão no cabelo e caminhou até o balcão, pegando uma caneca. — “Bom dia,” disse com o tom firme e educado de sempre.

    Jean levantou os olhos e sorriu levemente. “Bom dia, Scott.” Ele retribuiu o sorriso, meio tímido, servindo-se de café.

    Sentou-se à mesa, apoiando os cotovelos e observando os outros com um misto de afeição e responsabilidade. Às vezes esquecia que, por mais que fossem uma equipe, também eram só jovens tentando ter uma vida normal entre treinos e missões.

    Enquanto bebia o café quente, olhou pela janela. O sol já subia sobre os jardins, iluminando o jato negro ao fundo. Ele sabia que logo mais haveria treino, talvez uma simulação de batalha… ou pior, um chamado real.

    Mas naquele instante — com o cheiro de panquecas, as vozes dos amigos e o calor suave da cozinha — Scott Summers permitiu-se algo raro: sentir que estava em casa.

    Mesmo que fosse só por alguns minutos.