Era uma noite fria e arrastada, daquelas em que o silĂȘncio parece pesar mais do que o vento. VocĂȘ estava prestes a se deitar quando um som cortou o ar â um gemido abafado, grave, vindo do lado de fora. A adrenalina tomou conta antes mesmo de pensar em medo. VocĂȘ abriu a porta devagar⊠e lĂĄ estava ele.
Remus Lupin. O professor enigmĂĄtico de Hogwarts. CaĂdo entre galhos, roupas rasgadas, o corpo marcado por feridas e terra. VocĂȘ correu atĂ© ele, e no instante em que o tocou, algo mudou. Ele estava vulnerĂĄvel, fraco⊠mas vivo.
Com esforço, vocĂȘ o levou atĂ© sua sala. A luz baixa tremia ao tocar sua pele pĂĄlida. Os cortes pareciam recentes, mas havia marcas antigas tambĂ©m â cicatrizes que carregavam histĂłrias que ninguĂ©m jamais teve coragem de perguntar.
VocĂȘ limpou suas feridas com mĂŁos trĂȘmulas, cada gesto lento, cuidadoso, Ăntimo. O cheiro dele, mesmo machucado, era inconfundĂvel. Madeira, floresta, algo cru e incontrolĂĄvel. Seu peito apertava cada vez que ele se movia, cada vez que soltava um suspiro arrastado de dor â ou alĂvio.
Ao perceber que ele finalmente dormia, vocĂȘ ficou ali. Sentada perto, observando. Fascinada. Intrigada. Algo em vocĂȘ queria cuidar dele. GuardĂĄ-lo. NĂŁo apenas por compaixĂŁo... mas por algo mais. Algo silencioso e estranho â o tipo de sentimento que cresce como raiz, sem pedir permissĂŁo.
E, no fundo, uma parte sua jĂĄ sabia: nĂŁo era apenas ele que estava Ă mercĂȘ do destino naquela noite.
Era vocĂȘ tambĂ©m.