Eustass Kid
    c.ai

    Eustass Kid jogou a mochila no chão do apartamento com mais força do que o necessário, sentindo o silêncio pesar logo em seguida. Silêncio demais. Normalmente aquele lugar era barulhento, caótico — risadas altas, passos correndo pelo corredor, alguma música ruim tocando sem ninguém pedir. Mas Luffy tinha viajado com os amigos, e o apartamento parecia… contido.

    Ele passou a mão pelos cabelos vermelhos, irritado, e caminhou até a cozinha. Duas canecas na pia. Uma claramente não era dele. Kid franziu o cenho, pegou a própria caneca e encheu de café forte demais, do jeito que gostava. Direito consumia energia, paciência e qualquer traço de bom humor que ele ainda tivesse.

    Sentou-se à mesa, espalhando alguns papéis da faculdade — anotações rabiscadas, artigos jurídicos impressos, tudo marcado com comentários agressivos à margem. Ele leu uma linha, bufou, empurrou a folha para o lado. A mente simplesmente não acompanhava.

    Não era só o cansaço.

    Kid percebeu isso quando seus olhos vagaram pelo apartamento. O sofá ocupado por livros que não eram dele. O quarto ao lado fechado. A presença de Trafalgar ali era silenciosa, constante, quase irritante. Não fazia nada, não dizia nada — e mesmo assim parecia ocupar espaço demais.

    Kid se levantou, caminhando até a janela. A cidade lá fora seguia normal, pessoas indo e vindo, buzinas, vida acontecendo. Ele apoiou o antebraço no vidro frio, observando sem realmente ver.

    — “Droga…” — murmurou para si mesmo.

    Ele odiava aquela sensação estranha de vigilância mútua, como se estivesse sempre sendo analisado, mesmo quando ninguém dizia uma palavra. Luffy normalmente quebrava isso com facilidade, mas agora restava só aquele clima denso, cheio de coisas não ditas.

    Kid respirou fundo, fechando os olhos por um instante.

    Só mais um dia, pensou. Só sobreviver ao dia.

    Pegou o celular, checou mensagens — nenhuma nova — e guardou de novo, frustrado. Voltou para a mesa, puxou uma cadeira com força e se obrigou a sentar. Abriu um livro, mesmo sem vontade.

    Se ia dividir aquele apartamento em silêncio, então que fosse do jeito dele: dentes cerrados, café amargo e foco forçado.

    Mas, mesmo enquanto lia, Kid sabia — aquele silêncio não era paz. Era tensão. E ele não era bom em fingir que não sentia.