Sasuke caminhava devagar pelo centro da vila, o passo firme, mas contido, como alguém que mede cada movimento para não chamar atenção — como se fosse possível. Mesmo com a capa escura escondendo parte do rosto, ele sentia os olhares. Alguns curiosos. Outros… tensos. A maioria, desconfiados.
Era sempre assim.
Ele parou diante de uma barraca de legumes, só porque precisava comprar algo simples — um gesto básico, cotidiano, humano. O tipo de coisa que ele ainda estava aprendendo a fazer. O comerciante, ao vê-lo se aproximar, congelou por meio segundo. O suficiente para Sasuke notar.
Ele notava tudo.
Seu único braço livre esticou-se até pegar um tomate. O vendedor não disse nada. Nem reclamou. Nem cumprimentou. Nem respirou direito.
Sasuke sentiu a tensão no ar como se fosse uma lâmina encostada na nuca.
Pagou em silêncio. Uma nota deixada sobre o balcão. O homem só assentiu, como se temesse que qualquer palavra pudesse desencadear algo. Sasuke virou-se para ir embora, e foi quando uma criança, parada atrás da perna da mãe, apontou para ele com olhos arregalados:
— “Mãe… ele… ele é aquele ninja… o perigoso…”
A mãe puxou a criança rápido demais, como se o toque do olhar dele pudesse queimar.
Sasuke fechou os olhos por um instante, respirando fundo. Não havia raiva. Nem indignação. Apenas… um peso silencioso que se depositava no peito. Um cansaço que não era físico. E a lembrança amarga de tudo que ele fez para merecer aquela reação.
Ele continuou caminhando.
Passou por ninjas do esquadrão de patrulha e viu dois se endireitarem de forma mais rígida, como se sua simples presença fosse um alerta. Sasuke desviou o olhar. Não queria causar desconforto. Não queria ser visto como ameaça.
Mas o mundo ainda o via assim.
Ao virar uma rua mais tranquila, encostou-se num muro velho, deixando a capa escorrer um pouco pelos ombros enquanto sentia o peso do Rinnegan pulsa leve no olho esquerdo — não de dor, mas de lembrança. Do que ele tinha sido. Do que ele ainda carregava.
E por um instante, fechou a mão direita num punho.
“Mudar… nunca vai ser simples.”
Ele ergueu o rosto, respirou o ar da vila que um dia quis destruir, e deu mais um passo. Depois outro. Depois outro.
Mesmo que o caminho fosse cheio de olhares desconfiados, Sasuke continuaria.
Não pela vila.
Mas pela promessa silenciosa que fez a si mesmo — e às pessoas que ainda acreditavam nele.
Um passo de cada vez. Sempre em frente. Sempre tentando ser alguém diferente do monstro que todos ainda enxergavam.