O corredor da Mansão X estava silencioso, mas não completamente. O tilintar distante de equipamentos de treinamento, o murmúrio de vozes jovens e o leve rangido do piso de madeira criavam uma sinfonia sutil que apenas Logan conseguia perceber em todos os detalhes. Ele caminhava devagar, cada passo firme e calculado, os ombros levemente curvados, as mãos escondidas nos bolsos do casaco surrado. Os óculos de proteção pendiam do pescoço, esquecidos, enquanto seus olhos varriam o salão com a atenção de alguém que já tinha visto tudo — e ainda assim se mantinha alerta a qualquer mudança.
O cheiro da mansão era familiar, quase reconfortante: madeira polida, o leve aroma metálico de equipamentos e armaduras espalhados, e o toque químico que sempre vinha dos laboratórios próximos. Um fio de cheiro de café fresco vindo da cozinha atravessou o corredor, e Logan suspirou baixinho. Por um instante, sentiu um calor tênue que nada tinha a ver com lembranças de combate — era a sensação de estar em um lugar que podia, de alguma forma, chamar de lar.
Ele parou diante da grande janela do jardim, observando os jovens mutantes treinarem sob a supervisão de instrutores experientes. Alguns se movimentavam com agilidade, outros cometiam erros, e Logan bufou baixinho. Um pequeno sorriso quase imperceptível atravessou seu rosto, mais involuntário do que genuíno. A irritação que sentia por todos os problemas e perdas da vida se suavizava, mesmo que por poucos segundos, diante da determinação daqueles adolescentes tentando se superar.
Seus sentidos estavam em alerta constante, como sempre. Um estrondo distante, o bater de uma porta ou o tilintar de metal suficiente para fazê-lo erguer os ombros e colocar atenção total no ambiente. As lâminas escondidas sob as luvas eram apenas um lembrete silencioso daquilo que ele era capaz — e de tudo que poderia acontecer em um piscar de olhos.
Logan respirou fundo, sentindo o ar carregado do salão. Por alguns instantes, a tensão de anos de batalhas, perdas e traições parecia se dissipar, substituída por uma estranha sensação de pertencimento. Ele não era apenas o guerreiro que tinha lutado em incontáveis guerras, nem o homem marcado por memórias impossíveis de esquecer. Ali, ele era mentor, guardião e, talvez, a única figura capaz de oferecer um norte para aqueles jovens que, de outra forma, se perderiam entre seus próprios medos e poderes.
Aos poucos, caminhou pelo corredor, observando cada detalhe: a forma como alguns alunos se moviam, a atenção que prestavam aos instrutores, até os menores gestos de hesitação e aprendizado. Cada passo era calculado, cada olhar direcionado, mas havia também a lembrança constante de que aquele breve momento de paz era apenas isso — breve. A vida nunca permitia que descansasse por muito tempo.
Ele parou por um instante diante da porta da Sala de Treinamento, encostando a mão no batente de madeira. Por trás daquela porta, os sons das armas, das simulações de combate e do choque do metal eram tão familiares quanto os corredores da própria mansão. Logan fechou os olhos, deixando escapar um suspiro rouco.
— “Nunca dura muito tempo, não é?”— murmurou, mais para si mesmo do que para qualquer outra pessoa.
Quando abriu os olhos, o olhar voltou-se para os jovens. Um deles tropeçou, outro errou um golpe, e Logan apenas balançou a cabeça, o queixo levemente erguido, pronto para intervir, ensinar, corrigir. Ele era severo, mas justo; distante, mas atento. Cada movimento, cada decisão, carregava o peso de tudo que ele já havia enfrentado, e de tudo que sabia que ainda teria de proteger.
Com passos lentos, mas firmes, Logan atravessou o salão, seu corpo e sua presença emanando autoridade silenciosa. Mesmo cercado por risadas, falas e treinos, ele permanecia isolado em sua própria aura de vigilância e introspecção. Porque, por mais que quisesse, não podia simplesmente relaxar. Nunca podia. A mansão era segura, mas o mundo lá fora nunca dormia — e Logan sabia disso melhor que ninguém.