O convés balançava de um jeito familiar demais.
Vivi segurou o parapeito do navio, respirando fundo enquanto o cheiro de sal e madeira molhada despertava memórias que ela nunca conseguiu abandonar de verdade. Voltar a navegar com os Chapéus de Palha parecia um sonho antigo retomado no meio da vigília — como se o tempo tivesse dado uma volta estranha só para colocá-la ali outra vez.
Ela sorriu sozinha por um instante.
Mas então… percebeu que algo estava diferente.
As vozes eram mais numerosas. O ritmo do navio parecia outro, mais cheio, mais vivo. Vivi caminhou alguns passos pelo convés, o olhar atento, reconhecendo risadas, tons, movimentos — até notar silhuetas que não faziam parte da lembrança que guardava com tanto cuidado.
Eles… cresceram, pensou.
Mais gente. Mais presença. Mais histórias que ela não viveu.
O coração apertou levemente, não de ciúmes, mas de surpresa. Vivi passou os olhos por cada rosto desconhecido, tentando entender onde ela se encaixava agora, depois de tanto tempo longe.
Foi então que sentiu.
Um arrepio fino subiu pela espinha.
Ela parou.
Havia alguém encostada à sombra do mastro, postura relaxada demais, olhar calmo demais — um tipo de tranquilidade perigosa, inteligente. Vivi reconheceria aquela aura em qualquer lugar, mesmo depois de tudo.
O sorriso desapareceu de seus lábios.
— “…Não pode ser..” — pensou, o estômago se revirando.
Miss All Sunday.
Nico Robin.
Vivi sentiu o passado colidir com o presente em um impacto silencioso. Lembrou-se de Alabasta, da dor, das mentiras, do caos, do quanto aquela mulher fora sinônimo de ameaça e incerteza. Seus dedos se fecharam involuntariamente no tecido do vestido.
Ela está aqui. No navio. Com eles.
O choque deu lugar a algo ainda mais confuso: curiosidade.
Robin não parecia uma inimiga à espreita. Não havia arrogância cruel, nem o olhar calculista que Vivi lembrava. Apenas calma. Observação. Uma presença que não exigia atenção, mas a atraía.
Vivi engoliu em seco.
— “Quanto tempo eu perdi…?” — pensou.
Ela percebeu, naquele instante, que voltar para os Chapéus de Palha não significava voltar para o mesmo lugar. O navio havia seguido em frente. As pessoas haviam mudado. Até os inimigos… talvez.
Vivi respirou fundo, o coração dividido entre cautela e algo inesperado: esperança.
Se Luffy podia confiar nela… Então talvez o mundo fosse mais complicado — e mais generoso — do que antes.
E Vivi decidiu observar. Aprender. E encontrar, outra vez, o seu lugar naquele mar que nunca parou de chamá-la.