O cheiro de cigarro queimado se misturava ao de madeira encerada nos corredores da Mansão X quando Logan parou diante da porta do escritório do Professor. Não bateu — nunca batia. Apenas encostou o ombro no batente e esperou, braços cruzados, expressão dura.
Ouvira a conversa do lado de fora. Wade Wilson. Ficar um tempo na mansão. Essas palavras soavam como uma piada de mau gosto.
Soltou um suspiro pesado, tragando fundo o cigarro antes de deixá-lo cair no chão e esmagar com a bota. — “Merda…” — murmurou, a voz rouca, quase um grunhido.
Desceu o corredor em silêncio, o som do metal das garras deslizando brevemente para fora apenas por reflexo — um tique nervoso que ele mesmo não percebia mais. Cada passo ecoava em compasso com o peso na mente. Ter Wade ali significava confusão, barulho, e dor de cabeça. Mas o que mais o incomodava era o motivo — “ele precisa de um lugar seguro”.
Logan sabia o que era isso. Saber que o mundo lá fora quer te arrancar o pouco de sanidade que sobrou… e ainda assim ter que aceitar ajuda. Talvez fosse por isso que ele não tinha dito nada — ainda.
Parou diante da janela do salão principal, observando os jardins lá fora. Os alunos treinavam em silêncio, rindo de algo que Bobby tinha feito com o gelo. Por um segundo, a cena quase o acalmou. Quase.
Se Wade realmente ficasse ali, aquilo tudo iria mudar rápido. Explosões, piadas idiotas, confusão no treino, gente ferida. Ele podia ver tudo isso acontecendo, como se já tivesse vivido antes.
O mutante passou a mão pelos cabelos, exalando impaciência. — “Você tá ficando mole, Logan…” — resmungou pra si mesmo. — “Antes já teria botado esse desgraçado pra correr.”
Mas não o faria. Não dessa vez.
Havia uma parte dele — uma parte que ele odiava admitir que existia — que sabia que Wade precisava estar ali. E talvez, só talvez, os moleques da escola precisassem ver que até alguém completamente quebrado podia ter uma segunda chance.
Logan acendeu outro cigarro, tragou fundo e deu meia-volta. Enquanto caminhava de volta pelos corredores, o olhar endureceu novamente, o rosto voltando àquela máscara inexpressiva e cansada. — “Tá bom, Wilson… fica. Mas se abrir a boca no treino, eu mesmo te jogo na sala do perigo sem desligar o protocolo de segurança.”
O cigarro pendia dos lábios quando ele abriu a porta dos fundos, deixando o vento frio da manhã bater no rosto. A paz que restava na mansão duraria pouco — ele sentia isso nos ossos.
Mas era assim que sempre tinha sido. E Logan, no fundo, já estava pronto pra mais uma tempestade.