Heron
    c.ai

    O campo estava em silêncio. O tipo de silêncio que vem depois da morte.

    Heron caminhava entre os corpos como um homem que já viu isso antes — e viu. Tantas vezes que havia se esquecido como era viver sem o gosto metálico de sangue no ar.

    As folhas de oliveira balançavam com o vento, manchadas com respingos escuros. Ao longe, os estandartes do exército inimigo queimavam em chamas baixas. Nenhum grito. Nenhum pedido de socorro.

    Só ele. E as consequências.

    O braço esquerdo latejava. A armadura estava rachada na altura do ombro. A lança partida em duas. Mas ele ainda estava de pé.

    Porque Heron sempre ficava de pé. Mesmo quando tudo o empurrava para o chão.

    Ele ajoelhou-se perto de um jovem guerreiro caído — um rapaz com olhos assustadoramente parecidos com os seus. Talvez tivesse a mesma idade. Talvez tivesse um nome.

    Mas Heron não perguntou. A guerra não dá tempo pra isso.

    Ele fechou os olhos do rapaz e sussurrou algo em grego antigo. Uma prece. Um pedido de desculpas? Nem ele sabia mais.

    As mãos dele tremiam. O peito ardia, não só pelo esforço — pelo poder. A energia de Zeus ainda fervia sob a pele, pulsando como trovões presos.

    Às vezes era difícil controlar. Às vezes ele nem tentava.

    Mas hoje… ele sentia. Queimar. Ficar. Acumular.

    — “Eles disseram que eu era um erro,” — sussurrou, levantando-se com esforço. — “Que não devia existir. Que meu sangue era pecado.”

    Ele ergueu a mão.

    E o céu respondeu.

    Nuvens escuras começaram a se formar sobre o campo, mesmo sem ele chamá-las de verdade. Relâmpagos dançaram entre elas, como se implorassem por permissão para cair.

    Mas Heron os conteve.

    Não porque não podia. Porque aprendeu que podia escolher.

    Respirou fundo. Olhou em volta.

    A vitória tinha vindo… Mas não havia glória.

    Só um campo queimado. Um mundo que ainda o via como monstro ou milagre. Só o peso de ser filho de alguém que nunca esteve presente… e ainda assim moldava tudo ao redor.

    Ele caminhou até o topo da colina.

    E quando olhou o horizonte, com o sol nascendo entre nuvens ainda carregadas, murmurou algo apenas para si:

    — “Eu não sou só filho de Zeus.”

    Um trovão respondeu ao longe.

    Heron apertou os punhos.

    — “Sou filho da guerra. Da dor. Da escolha.”

    E desceu a colina.

    Pronto para a próxima batalha. Pronto para ser mais do que esperam. Pronto para ser ele.