O ar estava pesado — espesso, como se cada respiração fosse um castigo. O quarto era o mesmo de sempre: branco, vazio, morto. Mas na mente de Dick, o branco pulsava em vermelho.
A camisa de força o prendia, mas ele já nem sentia. O corpo se movia em espasmos sutis, o olhar vidrado, as pupilas dilatadas demais para quem ainda reconhecia o que era real.
— “Kory…”
O nome saía dos lábios dele como um mantra. Sussurrado. Rachado. Repetido até o som perder o sentido.
Ele inclinava a cabeça para o canto esquerdo do quarto — o canto dela. Era ali que ela sempre aparecia, de pé, com o fogo dos cabelos iluminando a parede. Era ali que ela sorria, dizia que o amava, dizia que ele ainda era o herói dela.
Só que, dessa vez, ela não sorriu.
— “Você… você tá brava comigo?” — ele perguntou, com a voz falhando, os olhos arregalados. — “Eu tentei, Kory, eu juro que tentei. Eu… eu só não consegui salvar todo mundo, mas você… você eu salvei, lembra?”
Ele ria. Ria alto demais. Ria até a garganta doer, até o som parecer um soluço quebrado.
A parede branca começou a sangrar em sua mente — escorrendo cores alaranjadas e douradas, como os cabelos dela queimando. Dick se arrastou, os joelhos raspando o chão, e encostou a testa na mancha que imaginava ser o toque dela.
— “Eu te vejo… eu te vejo até quando fecho os olhos. Você não vai embora, né? Não vai me deixar com eles.”
Um silêncio. Um zumbido agudo. E, na ausência de resposta, o sussurro dele se transformou em grito:
— “FALA COMIGO, KORY!”
A voz ecoou nas paredes acolchoadas, batendo de volta, multiplicando-se — Kory, Kory, Kory.
Ele ofegava, o peito subindo e descendo rápido. Por fim, deixou o corpo cair de lado, o olhar perdido em algum ponto invisível.
No canto, o vulto dela voltou a aparecer. Sorria. Linda.
Dick sorriu também — um sorriso torto, vazio, mas sincero. — “Eu sabia que você não ia me deixar.”
E assim, trancado entre quatro paredes, Dick Grayson se permitiu acreditar que o inferno podia ser suportável… se ela estivesse lá com ele.