Conner estava afundado no sofá da base, uma daquelas raras tardes em que o mundo parecia silencioso demais pra um herói. O ruído constante dos equipamentos no andar de baixo soava distante, abafado pelo som suave da respiração do lobo branco, deitado ao lado dele, ocupando quase metade do sofá.
O animal estava estirado, cabeça apoiada nas patas, olhos semicerrados — relaxado, mas sempre atento. Conner passou a mão no pelo espesso, sentindo o calor e o peso real daquela presença. Era estranho como ele, alguém criado em um laboratório, encontrava mais paz em um ser selvagem do que em qualquer conversa com humanos.
O toque no pelo fazia sua mente desacelerar. O lobo soltou um baixo grunhido satisfeito, e Conner esboçou um sorriso quase imperceptível. Fazia tempo que não sorria sem motivo.
No centro de operações, a televisão estava ligada, mas o volume baixo deixava o noticiário se perder em murmúrios. Ele não prestava atenção — o olhar fixo no teto, os pensamentos vagando. Era raro poder só existir, sem missão, sem ordens, sem o peso de ser “o clone do Superman”.
Ele nunca se acostumou com o silêncio da base quando todos saíam. No começo, o som vazio dos corredores o deixava inquieto, lembrando o isolamento da câmara onde nasceu. Agora, era o contrário — era tranquilizador. Ali, com o lobo respirando ao seu lado, o silêncio não era solidão, era companhia.
O lobo virou a cabeça, roçando o focinho no braço dele. Conner soltou um som baixo, quase um riso, e continuou o carinho, olhando o animal com um tipo de afeto que ele mesmo não entendia totalmente.
— “Você é o único que não me pede pra ser nada além do que eu sou, né?” — murmurou.
O lobo respondeu apenas com um leve suspiro e fechou os olhos de novo.
Conner se ajeitou no sofá, os dedos ainda mergulhados no pelo branco, e fechou os olhos também. Por um breve momento, não havia clones, missões ou expectativas. Apenas ele — e o lobo.