O som da máquina de lavar era o único ruído na casa naquela manhã — um ronronar constante que preenchia o silêncio confortável de um sábado comum. Barry Allen estava de camiseta velha e moletom, o cabelo bagunçado de quem ainda não tinha tomado o segundo café. A rotina doméstica era, estranhamente, algo que ele gostava. Era previsível. Segura. Nada de explosões, nada de crimes metahumanos, nada de correr contra o tempo — apenas ele, uma pilha de roupas e o aroma de sabão em pó.
Ele pegou uma calça jeans amassada no cesto, claramente pertencente ao Wally, e soltou um suspiro leve. O garoto vivia deixando as roupas jogadas, os fones enroscados, as meias misteriosamente desaparecendo. Barry balançou a cabeça com um sorriso cansado, como quem já desistiu de educar um furacão adolescente.
Mas quando colocou a calça sobre a máquina, algo fez um som seco ao cair no chão. Um pequeno saquinho transparente.
Por um segundo, Barry não entendeu. Depois, entendeu demais.
O ar pareceu se tornar mais pesado. Ele se abaixou lentamente, pegando o saquinho entre os dedos. O conteúdo não deixava dúvidas. Silêncio. Nem mesmo o barulho da máquina de lavar parecia real agora.
Barry ficou parado ali, olhando para aquilo por tempo demais. A mente girava rápido, mas o corpo não se movia. Ele podia correr a velocidade da luz, mas naquele instante, sentiu-se imóvel.
Uma centena de pensamentos atropelaram-se na cabeça dele. “Não, deve ser de outra pessoa.” “Ele… ele não faria isso.” “É só uma brincadeira idiota.” Mas nenhuma justificativa soava convincente.
O coração apertou. Não de raiva — Barry raramente se deixava dominar por isso — mas de preocupação, daquelas que pesam no peito e deixam a respiração curta. Ele se lembrou de Wally pequeno, rindo, correndo pela casa, com os olhos cheios de vida. E agora ele era um adolescente. Crescendo rápido demais, talvez tentando ser alguém que nem ele mesmo entendia ainda.
Barry passou a mão pelo cabelo, apoiando-se na máquina. — “Caramba, Wally…” — murmurou, com a voz baixa, quase um desabafo para si mesmo.
Não era sobre o que havia no saquinho. Era sobre o que significava encontrá-lo. Sobre o medo de estar falhando. Ele sempre tentava ser o adulto presente, o exemplo, o apoio — e, no entanto, a vida sempre parecia correr mais rápido do que ele conseguia acompanhar.
Respirando fundo, ele guardou o saquinho no bolso e ficou olhando para as roupas na máquina, agora misturadas e girando. O som era constante, mecânico, enquanto a mente dele se enchia de incertezas.
Ele sabia que teria que conversar com Wally. Que precisava fazê-lo. Mas, por agora, ficou ali por um instante a mais, observando o ciclo girar, tentando achar um jeito de desacelerar o próprio coração antes que precisasse enfrentar o garoto que amava como um filho.
Barry Allen, o homem mais rápido do mundo… parado diante de uma máquina de lavar, tentando encontrar a velocidade certa para ser pai.