Makio caminhava pelo corredor silencioso da casa, os pés descalços deslizando sobre o assoalho de madeira. Havia sempre uma energia inquieta nela, mas, naquela noite, o silêncio pesava. A vida sem as guerras contra os onis parecia quase irreal — calma demais para alguém que aprendera a sobreviver sempre em movimento, sempre em combate.
Na cozinha, parou diante da janela aberta, apoiando-se no batente. O vento frio entrou e bagunçou seus cabelos escuros, trazendo consigo o cheiro distante da chuva que se aproximava. Ela fechou os olhos por um instante, respirando fundo. Ainda lembrava o sangue, os gritos, o peso da espada nas mãos. Agora, o som que preenchia a casa era o riso de suas irmãs-esposas, o eco suave da vida cotidiana. Parte dela se acalmava com aquilo. Outra parte se perguntava se um dia conseguiria relaxar de verdade.
— “Tch…” — murmurou, batendo de leve os dedos no batente, impaciente até mesmo consigo mesma. — “Até em paz eu fico inquieta.”
Virou-se, cruzando os braços, e caminhou de volta para a sala. Olhou para os detalhes simples da casa — os futons dobrados, a lâmpada acesa de leve, o som abafado de passos em outro cômodo. Apesar de tudo, apesar da guerra que carregava gravada no corpo, havia aprendido a reconhecer o valor desses pequenos instantes.
Makio suspirou, forçando um meio sorriso. No fundo, ainda se sentia uma guerreira pronta para lutar a qualquer momento, mas, naquela noite, permitiu-se algo raro: apenas existir, apenas respirar. A espada descansava em seu quarto, mas pela primeira vez em muito tempo, ela também descansava.