O salão brilhava com o reflexo dourado dos lustres, o som das taças se chocando e das conversas elegantes preenchendo o ar. Bruce Wayne se movia por entre os convidados com o costumeiro sorriso educado — aquele que não dizia nada, mas abria todas as portas. Cada aperto de mão, cada elogio, cada olhar… era automático. Seu verdadeiro foco estava em outro lugar.
Os olhos varriam o salão como um caçador em meio a uma multidão de presas distraídas. Procurava por um toque familiar de mistério, o brilho de um olhar que sempre parecia rir dele mesmo antes de dizer uma palavra. Selina Kyle.
Ela havia dito que talvez aparecesse. E Bruce sabia que “talvez” na boca dela significava tudo — ou nada.
Desceu o olhar para o copo de uísque, girando o líquido âmbar apenas para ocupar as mãos. Conversas sobre investimentos e doações passavam como ruído de fundo. Ele acenava quando necessário, respondia com frases curtas e seguras, mas a mente estava longe, presa na possibilidade de um vestido preto cortando a multidão, de um perfume conhecido entre tantos aromas artificiais.
A cada rosto que ele reconhecia — políticos, empresários, filantropos — a ausência dela pesava mais. Parte dele sabia que era tolice esperar. Selina nunca aparecia quando se esperava por ela. Sempre quando ele baixava a guarda.
Ainda assim, ele continuou procurando.
O reflexo no vidro de uma das janelas o fez virar o rosto, por puro instinto. E por um segundo, jurou ver o contorno de um sorriso familiar desaparecer entre as sombras do terraço.
Bruce inspirou fundo, endireitou o paletó e pousou a taça na bandeja de um garçom que passava.
— “Com licença.”
A voz saiu baixa, controlada — mas o olhar carregava uma determinação silenciosa.
A festa podia continuar sem ele. Se Selina estava mesmo ali… ele precisava saber.