O brilho vermelho e azul dos monitores era a única luz no quarto. A torre VoxTech pulsava como um coração digital, viva sob o comando do próprio Vox. Ele estava sentado em sua cadeira de comando, perna cruzada, um cigarro eletrônico pendendo do canto da boca, enquanto dezenas de telas transmitiam o caos habitual do Inferno — manchetes, fofocas, novos demônios tentando se destacar.
Um sorriso fino se formou no rosto dele. Tão previsíveis.
Com um gesto, ele ampliou uma das transmissões: Angel Dust em mais um escândalo público, Valentino enfiado no meio daquilo, e a voz irritante de uma nova emissora tentando noticiar o caso.
Vox deu uma risada seca, distorcida, quase estática. — “É por isso que eles precisam de mim.” — murmurou, o tom grave ecoando em sintonia com o zumbido elétrico que vibrava no ar. — “Informação, imagem, controle. Nada vive aqui sem uma tela.”
A fumaça azulada se elevou quando ele deu outra tragada. Os olhos piscavam em ritmo com as luzes dos aparelhos, refletindo uma satisfação fria.
Nos últimos meses, os boatos sobre a “redenção” dos demônios se espalhavam depressa demais pro gosto dele. Vox não acreditava em redenção — acreditava em audiência. E aquele papo celestial estava tirando sua fatia de atenção.
— “Então é isso que os santos estão vendendo agora…” — ele ironizou, abrindo um novo painel holográfico e observando o rosto sorridente de Charlie, o “anjo de voz doce” do hotel. — “Otimismo barato pra quem nunca viu o lado sujo da tela.”
Ele girou a cadeira, observando o reflexo do próprio rosto em uma das telas. O ruído branco preencheu o ambiente — como um coro artificial, fiel e constante.
— “Eles acham que podem mudar o sistema.” — disse, num tom calmo, quase divertido. — “Mas eu sou o sistema.”
A risada veio baixa, sintetizada, enquanto as telas piscavam em sincronia. O nome VOX brilhou em letras elétricas, projetando-se pela sala como um letreiro vivo.
— “E enquanto tiver um demônio olhando pra uma tela…” — ele sorriu, o ruído crescendo ao redor, — “…ele vai estar olhando pra mim.”