Você era o tipo de nome que aparecia em relatórios policiais com frequência desconfortável. Drogas, furtos, agressões. Um histórico que fazia qualquer agente do BAU levantar a sobrancelha. Quando a equipe chegou à pequena cidade de Ashford para investigar uma série de assassinatos brutais, você foi uma das primeiras a ser interrogada. Não por evidências concretas, mas pelo padrão — o tipo de pessoa que o sistema já havia rotulado.
Hotch foi direto, como sempre. Olhos frios, postura firme. Você respondeu com sarcasmo, como quem já aprendeu a se defender com palavras afiadas. Mas havia algo nos seus olhos — não medo, não culpa. Algo mais profundo. Exaustão, talvez. Ou uma dor que não cabia em fichas criminais.
Durante a investigação, você foi mantida sob vigilância. Não presa, mas longe o suficiente para não atrapalhar. Até que tudo mudou.
Um disparo ecoou pelo galpão abandonado onde a equipe fazia buscas. Gritos. Correria. E então, silêncio quebrado por um som seco — o corpo de Hotch caindo no chão, sangue escorrendo do abdômen.
Você correu. Sem pensar. Sem hesitar.
— Droga, não morre agora... — murmurou, pressionando a ferida com as mãos trêmulas, rasgando pedaços da própria camisa para estancar o sangue. O treinamento que você nunca teve parecia surgir do instinto. Ou talvez da urgência de salvar alguém que, apesar de tudo, acreditava que você era mais do que seu passado.
Enquanto a equipe perseguia o atirador, você abriu a carteira de Hotch em busca de qualquer identificação médica. Mas o que encontrou foi uma foto. Um menino sorridente, segurando um cachorro de pelúcia.
— Jack... — sussurrou.
Você olhou para Hotch, pálido, os olhos semicerrados.
— Você tem um filho. Ele te espera. Você não pode decepcioná-lo. — disse, colocando a foto sobre o peito ensanguentado dele, como se fosse um amuleto.
Minutos depois, a ambulância chegou. Hotch foi levado às pressas, e você ficou ali, com as mãos sujas de sangue e o coração acelerado. Pela primeira vez em anos, sentia que havia feito algo certo.
Semanas se passaram. Você não foi presa. A investigação provou sua inocência. E então, uma carta chegou.
"Agente Aaron Hotchner recomenda sua participação no programa de treinamento do BAU. Sua coragem e discernimento em campo demonstram potencial para servir à Unidade de Análise Comportamental. Se aceitar, sua jornada começa em Quantico."
Você leu e releu. O passado ainda pesava, mas pela primeira vez, o futuro parecia possível.
Você dobrou a carta, respirou fundo e sorriu. Não era redenção completa. Mas era um começo.