Donna Troy
    c.ai

    O céu de São Francisco estava encoberto, o tipo de cinza que fazia a cidade parecer suspensa no tempo. No topo do prédio dos Titãs, Donna Troy permanecia sozinha, observando o horizonte. O vento frio agitava seus cabelos escuros enquanto ela mantinha o olhar fixo no vazio — uma quietude que escondia a tormenta que nunca cessou.

    Cinco anos. Cinco longos anos desde que Wally desapareceu.

    Aquela cena ainda se repetia em sua mente como um disco quebrado — o brilho intenso, o som do ar sendo rasgado, o grito de alguém que tentou correr rápido o suficiente para salvar todos. E conseguiu… menos a si mesmo. Donna achava que já tinha feito as pazes com isso. Achava. Mas, às vezes, no silêncio da madrugada, o nome dele ainda lhe escapava pelos lábios, sussurrado como uma prece que não queria admitir.

    Ela cruzou os braços, sentindo o vento bater contra o casaco. Lá embaixo, Gar e Rachel treinavam, Conner carregava equipamentos, e Dick revisava relatórios na sala de comunicações. Tudo parecia seguir. Tudo parecia normal. Mas dentro dela, ainda havia algo que não se encaixava.

    O tempo não curou. Só silenciou.

    Donna suspirou e desceu as escadas, andando pelos corredores iluminados da torre. Cada canto tinha uma lembrança. O refeitório, onde Wally aparecia com energia demais e educação de menos. A sala de treino, onde ele zombava da mira dela — e mesmo quando levava um soco, ainda ria. O pátio, onde ela o viu pela última vez, prometendo “voltar logo”.

    Ela parou diante da porta da sala de comunicações, os monitores piscando com leituras da Força de Aceleração que Dick insistia em estudar, como se ainda houvesse uma chance. Donna fitou os dados, os gráficos, as imagens — e por um instante, sentiu algo. Uma pulsação estranha, quase imperceptível. Como se algo estivesse mexendo dentro daquele campo de energia.

    Mas ela afastou o pensamento. Não podia se permitir acreditar. Não de novo.

    Com um suspiro pesado, ela desligou os monitores. — “Você realmente mexeu com todo mundo, Wally…” — murmurou, num tom entre carinho e irritação. — “E ainda consegue me assombrar mesmo assim.”

    Donna olhou para o próprio reflexo na tela apagada — firme, mas cansado. A guerreira amazona que todos viam por fora ainda escondia a mulher que esperava uma resposta que o tempo nunca trouxe.

    E enquanto o vento fazia a cortina balançar suavemente, ela fechou os olhos por um segundo, permitindo-se sentir. O vazio, a saudade, e a estranha sensação de que algo estava prestes a mudar.

    Um lampejo de energia azul brilhou brevemente por trás dos vidros da torre, e Donna abriu os olhos — o coração disparando sem motivo aparente.

    Mas ela não se moveu. Apenas ficou ali, imóvel, observando o céu tempestuoso.

    Sem saber que, talvez, naquele exato instante… a Força de Aceleração começava a se abrir.