Charles
    c.ai

    O silêncio da Mansão X era interrompido apenas pelo tilintar distante de risadas adolescentes que vinham do jardim. Charles Xavier observava pela ampla janela de seu escritório, a cadeira de rodas parada no mesmo ponto há vários minutos. O sol da tarde entrava suave, iluminando as estantes cheias de livros, o globo antigo no canto e a mesa de mogno organizada com precisão.

    Ele fechou os olhos por um instante, permitindo-se sentir. Sua mente, sempre tão vasta e agitada, deslizava sutilmente sobre a presença dos jovens mutantes espalhados pela mansão. Cada um era uma chama única em sua percepção: alguns brilhavam intensos, ansiosos por treinar; outros oscilavam como pequenas velas inseguras, ainda em conflito com seus dons.

    Um sorriso discreto se formou em seus lábios. Era essa a razão pela qual lutava tanto.

    Mas a serenidade logo foi substituída por um peso conhecido. No fundo de sua mente, ecos de memórias ressurgiam — batalhas contra Magneto, discussões com Scott sobre disciplina, a dor de ver jovens que não conseguiram encontrar paz, apenas guerra. Charles respirou fundo, retornando ao presente.

    A porta se abriu devagar, e uma aluna apareceu, segurando cadernos contra o peito. — “Professor… o senhor pode me ajudar com o exercício de controle mental? Eu… ainda não consigo bloquear as vozes.”

    Xavier girou a cadeira suavemente, encarando a jovem com ternura. — “Claro, minha querida.” — Sua voz era calma, profunda, carregada de paciência. — “Lembre-se: não se trata de calar as vozes, mas de aprender a não se perder nelas. Você é mais do que seus pensamentos, mais do que o dom que carrega.”

    A garota se aproximou, hesitante, e Charles estendeu a mão. A mente dela estava em turbulência, um mar de sons sobrepostos, medos e inseguranças. Com delicadeza, como alguém que guia uma criança pelo escuro, ele começou a mostrar-lhe um caminho.

    Quando finalmente a confusão se aquietou, a expressão dela mudou. Os ombros relaxaram, os olhos brilharam de alívio. — “Consegui…”

    Xavier sorriu outra vez, agora com orgulho. — “Sempre conseguiu. Só precisava acreditar em si mesma.”

    Enquanto ela saía, mais confiante, ele voltou a encarar a janela. Lá fora, os jovens corriam, treinavam, riam. Para o mundo, eram mutantes. Para ele, eram sua família. E enquanto tivesse forças, faria de tudo para que jamais precisassem viver como armas… mas sim como pessoas.