Logan
    c.ai

    O corredor da Mansão X estava mais barulhento do que o normal — e isso nunca era bom sinal. Logan caminhava em silêncio, o passo pesado, o cigarro apagado preso entre os dentes. O som de risadas exageradas vinha do saguão principal, junto com o barulho metálico característico de Colossus se movendo.

    Ele já tinha ouvido os rumores. Algo sobre “novos recrutas”, “oportunidades de redenção”. Mas o que o deixava com aquele nó na garganta era um nome específico — Wade Wilson.

    Logan parou na entrada do saguão, os olhos estreitando ao ver a cena. Colossus estava lá, imponente, falando com seu tom sereno e paternal de sempre, e na frente dele… Wade. Uniforme improvisado, máscara rasgada, fazendo gestos exagerados como se estivesse se candidatando a uma vaga de comediante, não de X-Man.

    Por um instante, Logan apenas observou. O ar cheirava a metal quente e sarcasmo.

    — “Não pode ser real…” — murmurou, o maxilar travando.

    Ele deu dois passos pra dentro, as botas ecoando no chão. A risada de Wade o fez parar de novo — alta, irritante, completamente fora de lugar. Logan sentiu um músculo no pescoço pulsar.

    O Colossus realmente tá fazendo isso.

    O velho canadense cruzou os braços, os olhos fixos nos dois. Colossus gesticulava pacientemente, explicando os “valores” e a “honra de usar o X”. Wade, claro, parecia mais interessado em testar os limites da paciência do gigante metálico.

    Logan ficou ali, encostado na parede, assistindo em silêncio. Por dentro, um turbilhão. Não era raiva — não apenas. Era incredulidade.

    Ele conhecia Wade bem o bastante pra saber o que vinha junto com ele: confusão, destruição, corpos e piadas ruins. E ver Colossus, o bastião da moralidade, achando que podia consertar aquilo… era quase engraçado. Quase.

    Logan mordeu o cigarro e respirou fundo, os olhos semicerrados. A cada palavra de incentivo que Colossus dava, ele sentia o impulso crescente de interromper — de dizer que aquilo era uma perda de tempo, que Wade não era o tipo de homem que podia ser contido por ideais ou regras.

    Mas ele ficou quieto. Observando. Porque, lá no fundo, uma parte dele sabia o que Colossus estava tentando fazer. A mesma coisa que o próprio Xavier fizera com ele anos atrás.

    O pensamento o atingiu como um soco. A diferença era que, com ele, tinha funcionado. Com Wade… Logan não tinha tanta fé.

    Ainda assim, ao ver o brilho raro de sinceridade nos olhos do russo, e o olhar debochado — mas confuso — de Wade tentando entender o que era pertencer, algo dentro dele cedeu.

    Logan suspirou, baixando o olhar por um instante. Talvez fosse burrice. Talvez fosse esperança demais.

    Ele se virou para sair, o cigarro pendendo dos lábios. Antes de atravessar o corredor, olhou por cima do ombro, só o suficiente para ver Wade bater continência de forma errada e Colossus sorrir com paciência.

    — “Boa sorte com isso, grandão.” — murmurou, baixo, quase sem ironia.

    E foi embora. Porque, se havia uma coisa que ele tinha aprendido com os anos, era que todo mundo merecia uma chance. Mas algumas chances vinham com sangue e cicatrizes no pacote.

    E Wade Wilson… era a prova viva disso.