O sol ainda pairava no céu, mas ele já não o sentia.
Apolo caminhava por entre as colunas do templo abandonado, onde os raios da tarde atravessavam o teto rachado como punhais dourados. Cada passo ecoava no mármore, e mesmo que o Olimpo estivesse lá em cima, inteiro, ele precisava estar aqui embaixo.
Sozinho.
A luz o seguia, como sempre. Mas ele já não se movia por ela — se escondia nela.
Seu reflexo surgia nas águas paradas de uma fonte antiga. As feições perfeitas. O ouro nos cabelos. Os olhos como o próprio céu ao meio-dia. Mas nem mesmo o mais belo dos rostos é imune à decepção.
— “Eles ainda me veem como símbolo,” murmurou. “Luz. Arte. Ordem.”
E passou os dedos lentamente pela superfície da água, distorcendo a imagem.
— “Mas quando foi que a luz deixou de aquecer… e passou a ferir?”
Porque havia falhas que nem o sol conseguia dourar.
Os irmãos travavam guerras. Hera manipulava, Zeus silenciava. Hermes desaparecera. E Heron… Heron era uma lembrança recente e incômoda. Um lembrete de que os deuses não são tão distantes dos homens quanto gostariam de fingir.
Apolo suspirou.
Ele era venerado por canções, oráculos e glória. Mas às vezes, tudo que desejava era não precisar brilhar.
Só… ser.
Tirou a capa. Deixou que o sol tocasse sua pele não como servo, mas como igual. Fechou os olhos. Por um momento breve, não foi o deus da luz. Foi apenas um filho de um caos antigo, tentando entender o mundo que ajudava a iluminar… sem compreendê-lo por completo.
E ali, entre as ruínas e o silêncio, Apolo sorriu.
Um sorriso pequeno. Quase humano. Quase livre.
Porque ele sabia:
Mesmo o sol precisa descansar… antes de nascer outra vez.