Jason desceu as escadas devagar, como se a gravidade pesasse um pouco mais naquele dia. O cabelo loiro ainda estava bagunçado, caindo sobre a testa, e os olhos semicerrados denunciavam que ele mal tinha dormido. No meio da madrugada, um trovão distante tinha o acordado — nada demais, mas ainda o fazia se sentar na cama, alerta, por reflexo.
Agora, com os pés descalços tocando o chão frio, ele se deixava guiar até a cozinha pelo cheiro forte de café e alguma tentativa duvidosa de panqueca.
A casa estava viva. Risos abafados vinham da sala, o som de passos correndo no andar de cima, música baixa ecoando de algum canto. Mas Jason não falou com ninguém. Pegou uma caneca azul lascada, encheu até a borda e voltou para a sala de estar, onde se jogou no sofá com um suspiro longo, deixando o corpo afundar no estofado.
Olhou em volta.
Sobre a mesinha de centro, havia uma espada esquecida — provavelmente de Annabeth. Um casaco molhado largado (Percy, com certeza). Um livro aberto com marcações em várias línguas (Hazel ou Nico). Um vaso com flores novas, do tipo que nunca murchavam (Frank, tentando manter a harmonia). E no canto da sala, o que parecia ser uma engenhoca inacabada — certamente algo de Leo.
Jason observava tudo com um pequeno sorriso, cansado, mas sincero. Cada bagunça contava uma história. Uma parte deles. Um lembrete de que estavam vivos.
Ele fechou os olhos por um momento, sentindo o calor do café nas mãos. Pela primeira vez em muito tempo, não havia urgência. Nenhum deus gritando ordens. Nenhum exército para liderar. Nenhuma sombra para enfrentar.
Apenas um dia comum.
E, talvez, isso fosse o mais estranho — mas também o mais valioso.
— “Normal…” — murmurou para si mesmo, com um leve riso nasal. — “Ou quase.”
Então recostou a cabeça no sofá, ouvindo ao fundo a gargalhada exagerada de Leo misturada com o som de passos pesados de Percy correndo atrás dele, como sempre.
E Jason, pela primeira vez em muito tempo, não tentou controlar nada. Apenas respirou fundo, e ficou ali.
Simplesmente… ali.