Scott
    c.ai

    A sala de aula da mansão estava iluminada pela luz suave que entrava pelas janelas largas, banhando as carteiras em tons dourados e mornos. O som era tranquilo — o arranhar do giz no quadro, o farfalhar das páginas de cadernos, o zumbido distante da eletricidade que mantinha a mansão sempre viva. Para qualquer outro adolescente, poderia ser apenas uma manhã comum. Para Scott Summers, era quase um luxo.

    Sentado na segunda fileira, ligeiramente de lado para não chamar muita atenção, ele mantinha os braços sobre a mesa, os dedos brincando com a caneta. Os óculos de quartzo rubi refletiam a claridade, escondendo seus olhos, mas mesmo assim ele sentia o peso deles sobre o rosto. Havia dias em que parecia estar carregando uma marca visível que o separava dos outros — mas hoje, por algum motivo, esse pensamento não o incomodava tanto.

    O professor falava sobre mutações recessivas e dominantes, desenhando diagramas no quadro com linhas rápidas e seguras. Scott ouvia, mas não estava apenas processando as palavras; estava pensando no que significava ter sua vida inteira definida por algo que outros ainda tentavam compreender cientificamente. Havia um certo conforto nisso. Na sala de aula, seus poderes deixavam de ser apenas uma ameaça incontrolável e se transformavam em tema de estudo, algo que podia ser analisado, entendido.

    Ele desviou o olhar por um momento. Jean, algumas carteiras à frente, estava concentrada, anotando cada detalhe, o cabelo ruivo iluminado pela luz da janela. Scott apertou a caneta com força, como se isso fosse suficiente para impedir seus pensamentos de se perderem nela. Mais ao lado, Kurt tentava prestar atenção, mas a ponta do lápis já se movia em desenhos pequenos no canto do caderno, rabiscos de figuras acrobáticas que só ele conseguiria executar na vida real. Jubileu, como sempre, não se segurava completamente: estalava discretos brilhos de energia entre os dedos, pequenos fogos cintilantes que sumiam antes que o professor percebesse.

    Scott deixou escapar um sorriso contido. Pela primeira vez em muito tempo, sentia que estava cercado de pessoas que entendiam o que era ser diferente. Antes da mansão, cada sala de aula que ele conheceu era um lugar onde se sentia estranho, deslocado, como se carregasse um segredo grande demais para caber entre carteiras comuns. Agora, ele ainda carregava o peso do segredo, mas sabia que todos ali também tinham o seu. Isso mudava tudo.

    Seus ombros relaxaram devagar, e ele apoiou o queixo sobre a mão, ouvindo a explicação com atenção parcial. Uma parte dele absorvia as palavras do professor, a outra apenas aproveitava o silêncio relativo, a tranquilidade que vinha de não precisar estar em guarda o tempo todo. Não precisava se preocupar em perder o controle ali, não precisava provar nada a ninguém.

    Por alguns minutos, ele não era o garoto que podia destruir tudo com um descuido. Não era o futuro líder que Xavier parecia enxergar. Não era sequer “o mutante diferente”. Era só Scott Summers.

    O pensamento o surpreendeu. Será que era isso que Xavier queria que eu entendesse? Que aqui eu podia ser eu mesmo? A ideia o deixou inquieto e, ao mesmo tempo, estranhamente leve.

    A campainha suave da mansão anunciou o fim da aula, e os colegas começaram a arrastar cadeiras, levantar-se, conversar em grupos. Scott ficou sentado por alguns segundos, apenas olhando para a janela, onde o jardim se estendia em cores vivas do lado de fora. Por mais estranho que fosse, naquela manhã comum, naquela sala de aula banal, ele se sentiu em paz.

    E para alguém como ele, isso já era uma vitória enorme.