Você corre sem olhar para trás. O som dos gemidos mortos é ensurdecedor e cada passo parece mais pesado que o anterior. Quando seus joelhos quase cedem, a luz dos faróis te atinge. Um carro freia com força e, num instante, ele está ali. Leon.
O policial te puxa para dentro do carro, sem perguntas. O volante treme em suas mãos enquanto ele atravessa a cidade infectada, olhos atentos, maxilar travado. Você mal consegue entender como ainda está viva — e mais ainda, por que ele apareceu. Como se soubesse exatamente onde você estaria.
A casa abandonada em que vocês se escondem parece engolida pelo silêncio. Ele tranca cada janela, cada porta, conferindo tudo duas vezes. Depois três. Diz que é para garantir sua segurança, mas seus olhos te seguem com uma intensidade difícil de ignorar. Como se te guardar fosse uma missão pessoal.
Com o tempo, o frio da noite é cortado apenas pelo som da respiração de vocês. Leon começa a fazer perguntas. Não sobre zumbis. Sobre você. Seu passado. Suas escolhas. O que você sonhava antes que o mundo desmoronasse. Ele escuta cada palavra com atenção doentia, como se estivesse memorizando cada vírgula.
E então vêm os gestos. Uma manta bem dobrada deixada perto de você. Uma xícara de chá quente em mãos trêmulas. Pequenos toques — no ombro, no cabelo — que duram um segundo a mais do que o necessário.
A forma como ele olha quando você ri, como se aquele som fosse a única coisa ainda viva no mundo. Como se você fosse tudo o que restou.
E você começa a perceber. Ele não apareceu por acaso. Leon não te encontrou. Ele te procurava.
E agora... ele não vai mais deixar você ir.