Ryuji
    c.ai

    O silêncio era sufocante. Não havia tiros, explosões ou correria como nos jogos de espadas ou paus. Ali, no coração do naipe de ouros, tudo era mente contra mente. Ryuji estava sentado diante de uma mesa de metal fria, as luzes oscilando sobre sua cabeça, lançando sombras que alongavam seus traços cansados.

    À sua frente, um tabuleiro simples — peças dispostas como em um jogo de lógica infantil. Mas nada naquilo era simples. Cada movimento errado custava não apenas pontos, mas tempo de vida. O relógio na parede piscava em vermelho, lembrando-o a cada segundo que a linha entre viver e morrer era mais fina do que nunca.

    Ryuji respirava fundo, tentando manter o controle. O suor escorria por sua têmpora, mas ele não movia a mão. O psicológico era o verdadeiro campo de batalha. Não era sobre força física, mas sobre quem cedia primeiro à ansiedade.

    Ele fechou os olhos por um instante e ouviu a própria respiração ecoando dentro do peito. O coração batia acelerado, não apenas pelo risco, mas pela consciência cruel de que, se errasse, não haveria chance de refazer o passo. A lembrança de tudo que já perdera naquele mundo — os gritos, o sangue, os amigos caindo um a um — invadia sua mente como uma tempestade.

    — “Concentre-se”, murmurou para si mesmo, a voz quase um sussurro áspero.

    Quando abriu os olhos, encarou o tabuleiro novamente. As peças não eram mais apenas símbolos; eram escolhas. Cada uma carregava o peso de sua vida. Sua mente trabalhava freneticamente, medindo probabilidades, calculando, descartando hipóteses. O jogo queria quebrá-lo, mas ele não podia se dar ao luxo de quebrar.

    A tensão era tanta que suas mãos tremiam quando finalmente se moveram. Ele segurou a peça com firmeza, mas, no instante em que a posicionou, uma sirene soou. Não a da derrota, mas a da continuação. A partida não havia acabado — apenas avançado para a próxima etapa.

    Ryuji respirou fundo novamente, sentindo os músculos do ombro relaxarem por um segundo, apenas para voltarem a se enrijecer ao ver o novo enigma diante de si. O jogo não estava tentando matá-lo de uma vez. Estava tentando destruí-lo pouco a pouco, por dentro.

    E era isso que o fazia ainda mais perigoso.