Obanai estava sentado no engawa da Mansão dos Hashiras, as ripas de madeira rangendo levemente sob o peso de seu corpo. A noite havia caído há pouco, e o ar frio da montanha trazia consigo o cheiro úmido das árvores e o som distante de insetos noturnos. Kaburamaru repousava enrolada em torno de seu ombro, a língua bifurcada deslizando vez ou outra, como se compartilhasse do mesmo silêncio pensativo do dono.
Ele mantinha o olhar fixo em algum ponto indefinido do jardim, as faixas brancas escondendo a metade inferior de seu rosto, mas não a intensidade nos olhos bicolores. A lua refletia em seu olhar como se fosse uma lâmina. Pensamentos iam e vinham, quase sempre sombrios, lembranças de um passado que o corroía e o impedia de sentir-se digno da posição que ocupava.
Os outros Hashiras costumavam rir alto, discutir estratégias, ou simplesmente descansar após missões. Obanai, no entanto, carregava sempre o mesmo peso silencioso. Seu corpo estava firme, mas a mente permanecia inquieta. Ele passava os dedos sobre o cabo da espada, como se o simples contato com a lâmina pudesse manter seus pensamentos em ordem.
Por um instante, desviou o olhar para o céu. As nuvens abertas revelavam estrelas incontáveis, indiferentes às dores humanas. Kaburamaru deslizou pelo braço dele, como se percebesse a tensão. Obanai deixou que a serpente se aconchegasse novamente perto de seu pescoço, respirando fundo, devagar.
Ali, sozinho, entre a lua e a escuridão, ele não era o Pilar da Serpente. Não era o executor de ordens do Corpo de Extermínio. Era apenas um homem lutando contra cicatrizes invisíveis, contra o fardo de ser quem era.
Ainda assim, quando o som de passos se aproximou, sua postura se alterou imediatamente. O olhar voltou a endurecer, a mão firme na espada, a aura de frieza retomada como uma máscara inquebrável. Porque descanso, para Obanai Iguro, nunca era real.