Jean
    c.ai

    O corredor da mansão estava vazio. As vozes dos alunos já haviam se calado, e a noite caía do lado de fora, tingindo os jardins de azul e cinza. Jean caminhava devagar, descalça, o som dos próprios passos quase inaudível sobre o piso de madeira. As paredes pareciam respirar com ela — cada lembrança, cada memória, vibrando de leve no campo psíquico que preenchia aquele lugar que um dia chamara de lar.

    Ela sentia tudo. Os ecos mentais dos estudantes adormecendo, o ruído distante das mentes em treinamento, os pensamentos dispersos de Logan no andar inferior. Mas, acima de tudo, sentia o silêncio. O tipo de silêncio que pesa — aquele que vem quando o coração quer falar, mas a mente já se cansou de tentar entender.

    Jean parou diante da janela do corredor. A lua iluminava os jardins com um brilho frio, prateado. Ela apoiou a mão no vidro, sentindo a temperatura fria contra a pele quente. Um contraste quase cruel.

    Scott.

    Só pensar no nome já fazia seu peito se apertar. Desde o retorno de Madelyne, nada parecia se encaixar direito. O homem que ela reencontrou era o mesmo em corpo, mas não em alma. Havia nele uma distância que ela não conseguia atravessar — um abismo invisível entre os dois.

    Jean fechou os olhos, e a mente dela se abriu, involuntariamente. Imagens vieram, cortantes e turvas: o rosto de Madelyne, o olhar confuso de Scott, o bebê nos braços de alguém que não deveria existir. Dor. Culpa. Amor quebrado em pedaços.

    Ela estremeceu. Não era a primeira vez que isso acontecia. Desde que voltara, Jean percebia fragmentos dessas lembranças alheias se infiltrando nela, como ecos psíquicos impossíveis de conter. Por mais que tentasse se blindar, as emoções de Scott a encontravam — tristes, partidas, encharcadas de arrependimento.

    Mas o que mais doía não era o que ele sentia. Era o que ela não sentia mais.

    Jean respirou fundo, tentando organizar o caos dentro da própria cabeça. O controle mental sempre fora sua maior força… e sua maior fraqueza. Era fácil demais se perder entre pensamentos, emoções, vozes. E agora, tudo nela gritava em direções opostas: o amor por Scott, a mágoa, o cansaço.

    — “Ele ainda é o mesmo,” — murmurou para si mesma, tentando acreditar. — “Ele só precisa de tempo.”

    Mas a frase soou oca, quase cruel em sua própria boca. Porque no fundo, Jean sabia: o homem que ela amava ainda estava lá, sim, mas soterrado sob camadas de dor, culpa e memórias que não eram suas. E talvez… talvez ela mesma não fosse mais a mesma mulher que o amara antes.

    A mente dela começou a projetar lembranças involuntárias — risos no refeitório da mansão, o toque leve da mão de Scott segurando a dela nos dias de calma, o calor do olhar dele durante os combates, o “eu te amo” sussurrado antes das missões. Tudo tão real… e, ao mesmo tempo, tão distante.

    Jean levou a mão ao peito, sentindo o coração acelerar. Era uma mistura de saudade e perda. Como se tivesse sobrevivido a algo que destruiu tudo o que conhecia — e agora fosse forçada a continuar, fingindo que tudo estava bem.

    Ela sentou-se na poltrona ao lado da janela, a cabeça apoiada nas mãos. Do lado de fora, um relâmpago distante iluminou o céu, revelando o reflexo dela no vidro: olhos cansados, o cabelo bagunçado, o rosto sereno apenas na superfície.

    Mas dentro… o caos ainda rugia.

    Jean suspirou e falou, quase num sussurro: — “Eu o perdi… e ele ainda está aqui.”

    Era uma verdade cruel, mas libertadora. Porque ela finalmente entendia que às vezes o amor não desaparece — ele apenas muda de forma.