O céu se fechou como uma sentença.
Nuvens negras rodavam em espiral acima do mundo dos homens, e os relâmpagos que cortavam o firmamento não pediam permissão. Não eram avisos. Eram julgamentos.
No alto do monte Olimpo, os deuses se calavam. Até Poseidon, senhor dos mares, desviava o olhar. Até Atena, sempre implacável, hesitava.
Porque ele havia descido.
Zeus.
Não em estátua. Não em lembrança. Mas em carne divina. Em ira contida. Em olhos que já viram a criação e a destruição do mundo.
— “Vocês acham… que me esqueceram.” — sua voz ecoava como o trovão entre as colunas de mármore estilhaçadas. — “Acham que a ausência é fraqueza. Que o silêncio é rendição.”
As mãos dele estavam manchadas de poder antigo — a eletricidade dançava entre os dedos como serpentes vivas, nervosas, impacientes.
Abaixo, um exército de criaturas híbridas se alinhava para invadir a última cidade fiel aos deuses. A traição de Hera ainda ardia na alma do Olimpo como fogo que se recusa a apagar.
Mas Zeus não vinha por ela.
Ele vinha por aquilo que ela ameaçava.
— “Meu sangue corre no mundo.” — murmurou, mais para si. — “E mesmo quando não reconheço meus filhos… ainda sinto quando estão prestes a morrer.”
Seus olhos se voltaram para o campo. Para ele.
Heron.
Sangue seu. Sangue que Hera queria apagar da existência.
Zeus estendeu o braço.
Do céu, um raio desceu como um pilar de fúria, partindo o chão em dois. O campo inteiro se calou. Criaturas recuaram, sentindo o peso de um deus que, mesmo falho, ainda era rei.
Com um estalar de dedos, ele desceu.
Não como luz. Mas como homem.
Com barba desgrenhada, olhos marcados e dor visível. Porque Zeus não era apenas o soberano dos céus. Era um deus partido, tentando segurar os pedaços de um mundo que ele próprio ajudou a quebrar.
— “Essa guerra não será vencida por sangue. Mas se sangue for o preço…” — ele caminhou até o campo, os pés pairando acima do chão. — “Então deixem que seja o meu.”
Heron o olhou.
Não como filho. Mas como alguém tentando entender se ainda podia acreditar naquele nome.
Zeus parou.
Olhou para o horizonte. E, mesmo sabendo que os erros do passado não podiam ser apagados… ele ergueu o raio uma última vez.
— “Que os céus se lembrem… Quem sou eu.”
E então, o Olimpo caiu sobre a terra. E o mundo tremeu.
Porque Zeus havia escolhido lutar.