A maçaneta girou com um clique suave, e Loid entrou em silêncio no apartamento, fechando a porta devagar atrás de si. Estava escuro, exceto pela luz fraca vinda da cozinha, onde a geladeira permanecia entreaberta. Yor devia ter esquecido ao preparar algo, ou talvez Anya tivesse ido atrás de mais amendoins no meio da noite.
Ele soltou um suspiro longo, tirando os sapatos com cuidado para não fazer barulho. O casaco, ensanguentado por dentro e molhado por fora, foi discretamente enrolado e guardado na pasta de couro. Ninguém precisava ver. Ninguém podia ver.
Seu corpo gritava por descanso, os músculos tensos e um corte escondido no abdômen latejando como um lembrete cruel da noite anterior. Mas sua expressão, como sempre, era neutra. Calculada. Impecável.
Passou pela sala, onde o sofá ainda guardava uma almofada caída — provavelmente Anya assistindo TV antes de dormir. E por um instante, Loid parou. Apenas ali, em pé, observando aquele caos suave. Uma vida de fachada que, estranhamente, ele começava a valorizar mais do que qualquer missão de paz.
Foi até o corredor, espiando o quarto de Anya. Ela dormia com o rosto afundado no travesseiro e um dos pés para fora da coberta. Sorriu pequeno. Ela estava segura. Estava tudo bem.
Seguiu então para o banheiro, sem acender as luzes. A dor estava lá. O sangue também. Mas naquele momento, a missão podia esperar. A prioridade era manter essa vida intacta.
Mesmo que ele estivesse desmoronando por dentro.