O apartamento ainda tinha cheiro de café queimado e livros velhos — uma mistura que Conner achava meio estranha, mas… aconchegante. Ele nunca teria dito isso em voz alta, claro. “Aconchegante” não combinava com o cara que usava jaqueta de couro, cabelo bagunçado e óculos escuros dentro de casa. Mas ali, entre aquelas paredes, era difícil manter a pose.
A luz da manhã entrava pela janela do quarto, cortando o ar e iluminando as pilhas de arquivos e gadgets espalhados pelo chão. Tim tinha saído cedo para o trabalho — ou missão, ou sabe-se lá o que — e deixado o clássico bilhete com a letra meticulosa: “Não esquece de almoçar. E de não voar dentro do apartamento. De novo.”
Conner soltou um meio sorriso. Dobrou o bilhete, guardou no bolso da calça jeans e se jogou no sofá, o couro rangendo sob o peso dele.
A TV estava ligada em algum canal qualquer, mas ele não prestava atenção. O som servia só pra encher o silêncio — aquele tipo de silêncio que só aparece quando alguém faz falta. E, por mais que Conner fingisse ser o tipo de cara que não se importa com nada, ele sentia falta.
O apartamento era pequeno, mas Tim conseguia fazer parecer um lar. As canecas alinhadas, as plantas que ele insistia em cuidar, os livros empilhados com uma lógica que só ele entendia. Conner nunca teve isso — um espaço que não fosse uma base, um laboratório, um esconderijo.
Agora tinha um lugar onde podia largar as botas na sala, deitar no sofá e não precisar esconder o sorriso quando lembrava da expressão concentrada de Tim, com a testa franzida e o cabelo caindo nos olhos.
Conner esticou os braços, bocejando. Olhou pela janela, onde o vento mexia levemente as cortinas, e pensou que talvez, só talvez, essa fosse a vida que ele nunca soube querer.
Sem kriptonita. Sem clones. Sem pressa pra salvar o mundo.
Só o som distante da cidade… e a promessa de que, em algum momento daquele dia, a chave giraria na fechadura e Tim entraria pela porta, com aquele sorriso cansado e os olhos que sempre o traziam de volta pra casa.