M’gann estava sozinha na nave, sentada sobre a mesa da sala de comando, as pernas balançando levemente enquanto observava o vapor subir da xícara de chá que havia preparado. O som suave dos motores vibrava sob seus pés, um lembrete constante de que, mesmo depois da confusão do resgate, o silêncio podia ser ensurdecedor.
Ela respirou fundo, olhando para o reflexo turvo no vidro da janela — o espaço lá fora parecia infinito, mas a sensação de inquietação dentro dela era bem mais próxima. A garota nova… Koriand’r. Ela ainda estava tentando entender tudo aquilo. Não falava direito a língua, não conhecia o planeta, e o olhar dela — aquele olhar entre raiva e medo — lembrava demais o que M’gann via em si mesma quando chegou à Terra pela primeira vez.
Ela apertou as mãos sobre o colo, o polegar roçando nervosamente o tecido do uniforme. — “Eu devia ir falar com ela…” — murmurou para si, baixinho.
Mas não se moveu.
Porque, no fundo, M’gann lembrava do quanto era assustador ser encarada, ser recebida como diferente. E, mesmo que quisesse ajudar, ela temia dizer algo errado, parecer forçada, ou pior — fazer Koriand’r se sentir mais deslocada ainda.
O pensamento a fez suspirar. O som da própria voz no silêncio da nave parecia ecoar: — “Eu só quero que ela saiba que não está sozinha…”
O chá esfriava devagar, mas M’gann continuava ali, encarando o vazio e ensaiando conversas que ainda não tinha coragem de ter. Talvez, pensou, fosse melhor começar simples. Um sorriso, uma xícara de chá, algo pequeno o bastante pra dizer o que ela realmente queria: “Eu entendo você.”
E enquanto a nave seguia no rumo de volta à base, M’gann fechou os olhos e deixou a mente se acalmar — tentando acreditar que, às vezes, ser acolhedora também significava saber esperar o momento certo de se aproximar.