Os céus estavam cinzentos. Mas Zeus não os dispersava.
Sentado no trono vazio do Olimpo, o deus dos céus parecia pequeno demais para o mármore gigante que o sustentava. Um raio estalava, preso na palma da mão, girando devagar entre os dedos como uma serpente domesticada — inquieta, faminta, mas obediente. Por enquanto.
O salão estava deserto. Nenhum deus ousava falar com ele.
Não depois do que havia feito. Nem antes do que ainda pretendia fazer.
Ele olhava para frente, mas os olhos estavam longe. Mais longe do que o tempo alcançava. Mais fundo do que qualquer imortal gostaria de cair.
Heron. O nome do filho recém-reconhecido queimava como cicatriz recém-fechada. O filho que Hera desprezava. O filho que ele — Zeus, o todo-poderoso — havia escondido por medo, não por estratégia.
— “Quantos lares destruí em nome do amor?” — murmurou, como se esperasse resposta do eco.
Mas o eco não ousou devolver. Nem os trovões.
Lentamente, Zeus se ergueu. A capa caiu sobre os ombros como tempestade contida. Não havia coroa sobre sua cabeça. Nem merecia.
Ele atravessou o salão do Olimpo sozinho, as botas retumbando como batidas de guerra sobre o chão sagrado. Parou diante da varanda, onde o mundo mortal se espalhava como uma tapeçaria manchada por sangue e orações.
— “Eu dei a eles o fogo… e a guerra que vem junto.” — “Dei aos deuses o céu… e roubei-lhes o equilíbrio.”
Fechou os olhos.
Relâmpagos cruzaram o horizonte ao seu comando — mas não por raiva.
Por tristeza.
Porque, no fundo, Zeus era feito de poder… Mas também de culpa.
E enquanto o mundo tentava se curar das escolhas dele, ele permanecia no alto.
Rei. Traidor. Pai.
Dividido entre o que precisava proteger… e o que já perdeu para sempre.
—
E no som do trovão, ninguém ouvia a pergunta que não queria calar:
“Se sou deus… por que erro como homem?”