Nico di Angelo permanecia encostado em um canto da cobertura inferior do Argo II, onde as sombras eram mais densas. O navio inteiro parecia vibrar com a energia de Leo — engrenagens girando, metal rangendo, chamas ocasionais escapando dos canos — mas, para Nico, aquilo era quase sufocante. Ele não gostava de lugares cheios de barulho, de luz e, principalmente, de gente demais.
Os outros subiam e desciam o convés, rindo, discutindo planos, vivendo como se aquele fosse apenas mais um dia. Mas para Nico, cada minuto naquele navio era uma luta silenciosa contra a sensação de não-pertencer. O Argo era impressionante, ele admitia. Uma mistura de magia e engenharia que até Hades respeitaria. Mas também era… luminoso demais. Vivo demais.
Ele ajeitou a espada de ferro estígio ao lado e cruzou os braços, tentando ignorar o peso crescente no peito. O mar abaixo os chamava, mas não para ele. Para Percy, para os outros. Nico sentia apenas o frio das sombras, o eco de vozes antigas que pareciam se arrastar junto com ele desde o Mundo Inferior.
— “Não é minha missão… não é meu lugar.” — murmurou baixinho, sem se importar se alguém ouviria.
Por um instante, o balanço do navio fez a luz das lanternas oscilar, e Nico se permitiu puxar um pedaço da escuridão para si. As sombras se estenderam, envolvendo-o como um cobertor invisível. Ali, ninguém lembraria que ele estava presente. Ali, ele podia respirar sem se sentir engolido pelo brilho dos outros.
E ainda assim, por mais que desejasse sumir, seus olhos sempre voltavam para o convés. Para eles. Para o grupo que carregava a profecia. Uma parte dele, a mais irritante, ainda queria se certificar de que todos estivessem bem.