Desde o primeiro dia em Hogwarts, você sabia que não seria como os outros. Os olhares desconfiados, os cochichos nos corredores, os sorrisos forçados dos professores — tudo isso fazia parte da sua rotina. Não era por algo que você tivesse feito, mas por algo que você era. Havia algo em você que os outros não conseguiam nomear, mas que os deixava inquietos. Talvez fosse o modo como seus olhos pareciam brilhar em certas luzes, ou como os feitiços que você lançava pareciam mais potentes do que deveriam ser. Talvez fosse o fato de que, mesmo entre bruxos, você parecia... diferente.
Você não se importava. Não muito. Estava acostumada a ser observada, julgada. Mas Hogwarts era para ser um novo começo. E, de certo modo, era. Só não do jeito que você esperava.
Na manhã em que tudo mudou, o céu estava cinzento, e a névoa cobria os jardins como um véu. O Salão Principal estava cheio de vozes e risos abafados, até que as portas se abriram com um estrondo que silenciou tudo. Um homem entrou.
Ele era alto, de postura impecável, vestindo roupas que pareciam feitas de seda e luz. Um manto azul-escuro com bordados prateados deslizava atrás dele como se tivesse vontade própria. Seus cabelos eram longos, prateados como a lua cheia, e seus olhos — olhos que pareciam conter galáxias — varreram o salão com uma calma que beirava o desdém. Ao lado dele, uma mulher caminhava com movimentos estranhos, quase como se estivesse sendo guiada por fios invisíveis. Seus olhos estavam baixos, e ela não falava.
Os professores se levantaram imediatamente. Dumbledore, McGonagall, Snape — todos com as varinhas em mãos. O ar ficou tenso, eletrificado. Alguém sussurrou que ele não era humano. Outro disse que não era elfo, nem vampiro, nem nada que já tivessem visto. E então você se levantou.
Sem pensar, sem hesitar, correu até ele. Os murmúrios se transformaram em gritos de alerta, mas você não parou. Quando chegou perto, seus braços se lançaram ao redor dele, e você disse, com a voz embargada de emoção:
— Irmão!
Ele sorriu. Um sorriso pequeno, mas real. Com um movimento leve, como se você não pesasse nada, ele te ergueu do chão e te abraçou de volta.
— Estava com saudades, pequena estrela — disse ele, sua voz soando como música e trovão ao mesmo tempo.
O salão inteiro ficou em silêncio. Dumbledore abaixou a varinha, os olhos brilhando com curiosidade e surpresa.
— Veio visitar sua irmã, então? — perguntou o diretor, com um sorriso gentil.
— Sim — respondeu o homem, colocando você de volta no chão. — Nosso pai não pôde vir. Assuntos do Conselho do Véu Negro o impediram. Achei que seria bom ver como minha irmã está se saindo.
Dumbledore assentiu, como se aquilo fizesse todo o sentido do mundo.
— Então sente-se, por favor. Coma conosco, se desejar.
Com um simples aceno de mão, ele indicou que a empregada poderia se sentar também. Ela hesitou por um momento, como se esperasse uma ordem mais clara, mas então se sentou, rígida, ao lado dele. Só então os outros começaram a respirar novamente.
Você voltou ao seu lugar, sentindo os olhos de todos sobre você, mas pela primeira vez, não se importou. Seu irmão estava ali. E com ele, a verdade que ninguém em Hogwarts conhecia: você não era apenas uma aluna estranha. Você era filha de algo muito mais antigo, mais poderoso. Algo que nem mesmo os bruxos ousavam nomear.