Scott
    c.ai

    A sala principal da mansão tinha sido transformada em algo que lembrava uma verdadeira balada improvisada. As cortinas estavam recolhidas, algumas luzes coloridas piscavam graças a um mutante que se divertia usando seus poderes, e uma caixa de som grande fazia o chão tremer com o ritmo da música. Era uma cena quase surreal: adolescentes mutantes que carregavam o peso de poderes perigosos, simplesmente… dançando, rindo, vivendo.

    Scott Summers demorou a se acostumar com o cenário. De início, encostado em uma das paredes, parecia um espectador. Suas mãos suavam, e os óculos de quartzo rubi pesavam mais do que nunca em seu rosto. Mas, enquanto observava os colegas se divertindo, algo dentro dele começou a querer se mover também.

    Jubileu passou correndo, rindo alto, estourando pequenos fogos de artifício com as mãos. “Vamos, Summers! Nem parece que você sabe o que é diversão desse jeito!”, ela gritou por cima da música, antes de desaparecer na pista com mais dois amigos. Scott esboçou um sorriso nervoso, mas aquilo mexeu com ele. Talvez fosse hora de tentar.

    Ele atravessou o espaço com passos incertos. No meio do grupo, Kurt dançava de um jeito desajeitado, desaparecendo em teletransportes curtos só para surgir em outra parte da sala, arrancando gargalhadas de todos. Jean estava ali também, rindo com uma naturalidade que fazia o coração de Scott acelerar. Ela parecia brilhar em meio àquela bagunça — e ele não queria mais assistir de longe.

    Respirou fundo, largou o copo que segurava como escudo e entrou no meio da roda. Os primeiros movimentos foram tímidos, quase mecânicos, mas logo alguém puxou seu braço e o incentivou. A música pulsava, o grupo ria sem parar, e, contra todas as expectativas, Scott começou a se deixar levar. O peso dos óculos ainda estava ali, o medo ainda existia, mas por alguns minutos ele deixou que a batida falasse mais alto.

    Quando Jean percebeu que ele estava ali, seus olhos se encontraram por um instante. Não havia julgamento, apenas surpresa e um pequeno sorriso de incentivo. Isso foi suficiente para que Scott se soltasse mais, rindo também quando Kurt tentou girá-lo em um passo improvisado e quase derrubou os dois.

    A energia da festa era contagiante. Ele se viu pulando junto com os outros, batendo palmas no ritmo, até cantarolar trechos de músicas que nem sabia direito. O coração batia forte, não apenas pelo esforço físico, mas porque, pela primeira vez em muito tempo, ele se sentia… normal. Só mais um adolescente no meio de uma festa, cercado de amigos, rindo de bobagens.

    Quando a música diminuiu um pouco, Scott recuou para recuperar o fôlego. Encostado de novo em uma das colunas, mas agora suando e sorrindo, percebeu que algo tinha mudado. Ainda carregava seus medos, ainda havia o peso de seus poderes, mas por aqueles instantes, ele tinha se permitido viver.

    O reflexo no vidro de uma janela mostrou sua silhueta, o contorno do garoto de óculos que sempre se sentia deslocado. Mas a expressão no rosto não era a de solidão. Era a de alguém que tinha descoberto que, mesmo com toda a escuridão que carregava, ainda havia espaço para a luz.

    E, no fundo, Scott sabia: talvez essas pequenas vitórias — dançar, rir, se sentir parte de algo — fossem tão importantes quanto qualquer batalha que enfrentaria no futuro.