Jiraya
    c.ai

    Jiraiya caminhava devagar pela beira do lago, o mesmo lago onde — em outra vida — ele teria morrido. A água ainda tinha aquele brilho frio, espelhando o céu cinzento, mas agora… não havia peso em seus ombros. Só um silêncio estranho, quase desconfortável.

    Ele mexeu os dedos da mão esquerda, onde as cicatrizes recentes ainda formavam linhas duras. Cada movimento lembrava que ele tinha voltado. Que, de algum jeito inexplicável, hiraishin do destino ou pura teimosia do coração, ele sobrevivera.

    — “Heh…” — Jiraiya sorriu de canto, aquele sorriso cansado e maroto. — “O sábio tarado sobrevive até mesmo ao roteiro…”

    Mas a brincadeira não engana ninguém. Muito menos a si mesmo.

    Ele parou, fechando os olhos por um instante.

    Pain. Nagato. Konan.

    Os rostos vinham como fantasmas mal resolvidos, ardendo no fundo da consciência. Ele respirou fundo, deixando o ar gelado entrar devagar, e quando abriu os olhos havia um peso ali — não tristeza, mas uma determinação nova.

    — “Se eu morrer de novo, vai ser trabalhando ..”— murmurou, ajeitando o casaco, as costas estalando como madeira velha. — “Ainda tenho alunos pra cuidar. Um afilhado teimoso demais pra deixar sozinho. E uma profecia que não vai se cumprir sem mim olhando de perto…”

    Ele começou a andar de volta para a vila. O corpo ainda doía, mas o passo era firme.

    A cada passo, lembrava-se de Naruto. Do jeito que o garoto sorria. Da forma como acreditava em coisas que o mundo já tinha desistido de acreditar.

    — “Naruto…” — Jiraiya sorriu, um sorriso quente dessa vez. — “Acho que você vai ter que me aguentar mais um pouco, meu rapaz.”

    A ideia de chegar à vila e vê-lo, realmente vê-lo, quase fez seu peito apertar. Naruto achava que ele estava morto. Kakashi também. Tsunade…

    Jiraiya parou por um segundo.

    A lembrança dela o atingiu como um soco suave. Ele coçou a nuca, desviando o olhar como se ela estivesse ali em pé, brava, de braços cruzados.

    — “Aquela mulher vai me dar um tapa tão forte que eu vou desejar ter morrido mesmo…” — ele disse, antes de rir sozinho, um riso cheio de afeto.

    O vento soprou, bagunçando seus cabelos longos e brancos. Ele respirou fundo uma última vez e murmurou para si mesmo:

    — “Sobrevivi pra arrumar tudo que deixei quebrado.” E não vou desperdiçar essa segunda chance.

    Então Jiraiya caminhou rumo a Konoha — lento, machucado, mas vivo. Vivo o suficiente para reescrever a história que ele achou que já tinha acabado.