A chuva fina caía sobre o asfalto quebrado enquanto Erik caminhava firme, o sobretudo escuro colado ao corpo encharcado. Suas mãos, escondidas nos bolsos, ainda tremiam levemente da energia metálica que havia manipulado minutos antes — quando salvara os dois garotos de uma patrulha que caçava mutantes nas ruas.
Eles vinham atrás dele agora, passos apressados, ainda assustados demais para falar. Um deles mal devia ter dezesseis anos, com os olhos que brilhavam em tons dourados toda vez que ficava nervoso. A outra, mais nova, segurava as próprias mãos enluvadas para esconder as pequenas faíscas que escapavam sem controle. Mutantes. Perdidos. Caçados. Exatamente como ele já havia sido.
Erik não dizia nada, mas sentia o peso da responsabilidade que carregava. Cada jovem que encontrava era um espelho de seu passado — e também uma lembrança do motivo pelo qual ele e Charles divergiam. Ele queria lutar. Charles queria proteger. E, mesmo discordando, Erik sabia que a mansão seria o lugar mais seguro para eles. Pelo menos por enquanto.
Quando os portões altos da propriedade surgiram à frente, imponentes sob a neblina, Erik parou. A respiração saia em nuvens pesadas, mas seus olhos estavam fixos na construção além do ferro trabalhado. A Mansão Xavier. Um refúgio. Um sonho que não era seu, mas que, ainda assim, precisava existir.
Ele girou levemente a mão, e os portões de metal se abriram com um rangido suave. Os dois jovens atrás dele se encolheram ao ver o poder em ação, mas Erik apenas lançou um olhar firme por sobre o ombro. — “Não tenham medo. Aqui… vocês vão encontrar paz.”
Foram as únicas palavras que disse em todo o trajeto.
Conduziu-os pela alameda até a entrada principal. A cada passo, lembranças o assombravam: Charles tentando convencê-lo de que coexistência era possível, que ódio só gerava mais ódio. Parte dele ainda queria acreditar. Mas ao olhar para aqueles jovens, marcados pelo medo, sabia que a humanidade não seria gentil.
Erik parou diante da porta da mansão. Olhou para os dois, viu no rosto deles não só o medo, mas também uma centelha de esperança. Algo que ele mesmo havia perdido há muito tempo.
Respirou fundo, fechando os olhos por um instante. Quando os abriu, a expressão era resoluta. — “Charles saberá o que fazer.” — murmurou, quase para si mesmo.
Então, ergueu a mão e bateu na porta, sentindo o peso de cada decisão se acumular em seus ombros. Ele não era feito para esse papel de guardião. Mas enquanto Charles existisse, Erik garantiria que ao menos alguns mutantes não passassem pela mesma dor que ele.