Rachel Roth
    c.ai

    A noite era calma sobre a Torre dos Titãs, um tipo de calmaria que raramente durava. Rachel estava sentada no chão do quarto, cercada por velas acesas — as chamas tremulavam suavemente, dançando ao ritmo da respiração dela. O ar tinha cheiro de cera derretida e incenso de mirra, algo que ela usava para tentar “limpar” a mente.

    Mas nada limpava. Nem o silêncio. Nem o calor leve das chamas. Nem o som distante do mar batendo contra as rochas abaixo do prédio.

    Ela fechou os olhos, tentando se concentrar. Mas, como nas últimas noites, ele estava lá.

    O garoto ruivo. O mesmo olhar sereno e triste. Sempre distante, sempre olhando direto pra ela, como se esperasse algo — como se quisesse dizer o que Rachel não conseguia ouvir.

    — “Não é real.” — ela sussurrou, tentando firmar o pensamento. A chama de uma das velas vacilou.

    Rachel abriu os olhos. O quarto parecia o mesmo, mas o ar estava mais frio. Ela se levantou lentamente, os pés descalços fazendo barulho leve contra o chão. Olhou ao redor — as sombras se alongavam pelas paredes, como se se movessem sozinhas.

    Era sempre assim quando ela pensava nele. Quando tentava negar que aquilo a afetava.

    Rachel foi até a janela. A cidade brilhava embaixo, um mar de luzes que contrastava com o céu escuro. O reflexo dela surgia no vidro, pálido, com os olhos brilhando em tom violeta. — “Você não existe…”, disse para o reflexo, mas a voz saiu fraca, quase como se ela não acreditasse em si mesma.

    O coração dela batia rápido. Desde que começara a sonhar com aquele garoto, algo dentro de si parecia… chamado. Como se uma parte esquecida de sua alma reconhecesse a dele.

    Ela encostou a mão no vidro. Por um segundo, a imagem dele apareceu refletida atrás da dela — nítida, quase real. O mesmo cabelo ruivo desgrenhado, o mesmo olhar.

    Rachel recuou, o ar escapando dos pulmões em um suspiro preso entre medo e saudade.

    A vela mais próxima se apagou sozinha. Depois outra. E outra.

    Em poucos segundos, o quarto ficou escuro, iluminado apenas pela luz da lua. Rachel fechou os olhos, tentando conter o tremor nas mãos. O poder dentro dela respondia às emoções, e agora vibrava inquieto — como se também sentisse a presença dele.

    — “Quem é você…?” — murmurou, e o som ecoou fraco, perdido no escuro.

    Lá fora, o vento soprou com força, e algo pareceu responder, em sussurro: um nome que ela não entendeu, mas que fez o peito dela doer.

    Rachel ficou parada, em silêncio. E quando o vento cessou, a última vela reacendeu sozinha — com uma chama azulada, calma, como se dissesse: ele está mais perto do que você pensa.

    Ela não dormiu naquela noite. Apenas ficou ali, observando a chama até o amanhecer, esperando entender o que aquele sonho — e aquele garoto ruivo — realmente queriam dela.