Uzui Tengen acordou mais tarde do que estava acostumado em sua juventude. O silêncio da manhã o envolvia, quebrado apenas pelo canto distante de pássaros. Não havia mais o peso das missões, nem o cheiro metálico de sangue, apenas a rotina calma de alguém que já havia cumprido seu papel. Ele se levantou devagar, cada movimento lembrando-o de que seu corpo já não era o mesmo guerreiro imbatível de antes. Ainda assim, havia graça até na forma como ele se apoiava na bengala cuidadosamente trabalhada, mais um acessório extravagante do que necessidade real — pelo menos era assim que insistia em dizer a si mesmo.
Passou diante do espelho, ajustando a faixa sobre o olho perdido, e riu sozinho.
— “Hah. Ainda esplêndido. Mesmo o tempo não consegue apagar isso.”
No quintal, ele cuidava de pequenas plantas ornamentais, não porque tivesse paciência para a jardinagem, mas porque gostava da estética, da composição visual que lembrava uma cena grandiosa. Os vizinhos já estavam acostumados a vê-lo ali, com roupas chamativas demais para uma vida comum, como se fosse incapaz de se livrar do brilho que carregava.
De vez em quando, enquanto regava as flores ou afiava uma lâmina que nunca mais seria usada em combate, seu olhar se perdia. As memórias voltavam: o som do tambor marcando sua respiração, o fogo da luta, a perda de companheiros. Ele respirava fundo, afastando os fantasmas. Depois erguia o queixo e sorria de novo, porque se havia algo que jamais deixaria de ser, era extravagante até no modo de conviver com a solidão.
No fim, Uzui não precisava mais provar nada a ninguém. Sua vida agora era simples, mas ele a encarava como sempre encarou tudo: com brilho, vaidade e uma extravagância que nem a aposentadoria poderia apagar.