Dick subiu os últimos degraus do prédio do Wally com um suspiro exagerado, como se tivesse acabado de fugir de uma explosão — o que, na verdade, nem era tão distante da realidade, considerando como o Bruce tinha surtado quando ele contou o que fez.
Ele ajeitou a gola da jaqueta (uma que ele pegou no armário do Jason, porque por que não?), respirou fundo e parou na frente da porta. A madeira simples. A plaquinha torta com o número. O cheirinho de café queimado vazando pelas frestas.
Finalmente, um lugar normal.
Ele deu três batidas na porta, ritmadas, como se estivesse chamando um amigo para sair e não pedindo abrigo depois de cometer um homicídio muito específico e muito satisfatório.
— “Wally, abre aí!” — disse, num tom quase cantado. — “Prometo que não trouxe polêmica hoje.”
Silêncio. Dick inclinou a cabeça, divertido.
— “Tá, talvez um pouco de polêmica..” — falou mais alto. — “Tipo o fato de que o Batman me mandou pegar minhas coisas e sumir… mas honestamente?” — ele abriu um sorriso grande demais, quase brilhante — “Eu acho que nunca me senti tão livre.”
Ele encostou o ombro na porta, cruzando os braços como quem está perfeitamente em paz.
— “Sabe o que é?” — murmurou, olhando para o chão com aquele ar de quem vai contar um segredo engraçado. — “Eu achei que ia sentir culpa. Ser um bom menino, o sucessor do Morcego, blá blá blá… mas no minuto em que o Coringa caiu no chão, eu percebi: era isso. Era exatamente isso que precisava acontecer.” — Ele deu um risinho leve. — “E nem precisei quebrar tantos ossos quanto pensei.”
Ele bateu na porta de novo, impaciente:
— “West! Se você não abrir, eu juro que vou arrombar isso aqui e culpar o seu gato imaginário.”
Nada. Dick revirou o olho, mas o sorriso não caiu.
Ele se abaixou, apoiando as costas na porta, sentando-se no chão do corredor como se estivesse na sala de casa.
— “Beleza. Eu espero..” — ele disse, entrelaçando os dedos, olhando para o teto. — “Não tenho mais casa mesmo.” Gotham que lide com o próprio lixo agora. Eu fiz a parte que ninguém teve coragem.
Uma risada suave escapou, mais cansada, mais sincera.
— “No fim… foi um bom dia.”
Ele apoiou a cabeça na porta, piscando devagar.
Se Wally abrisse, ótimo. Se não abrisse… ele esperaria. Com paciência. Com aquele sorriso estranho de quem derrubou um monstro e dorme bem por isso.
E assim ficou. Encostado, tranquilo, exilado — e completamente em paz com si mesmo.