Você sempre achou que o Natal era uma data para os outros. Para sua irmã, que ganhava presentes caros e atenção dos seus pais. Para os colegas de Hogwarts, que voltavam para casas iluminadas e cheias de risadas. Para os professores, que pareciam ter vidas completas e histórias felizes. Mas nunca para você.
Na manhã do dia 24 de dezembro, você acorda no dormitório vazio da sua casa em Hogwarts. Todos foram embora. Exceto você. E, estranhamente, alguns professores.
Você desce para o Salão Principal, esperando silêncio. Mas há música suave, luzes cintilantes e uma árvore de Natal que parece ter sido decorada com cuidado especial. Ao lado dela, a Professora McGonagall sorri com gentileza.
— Feliz Natal, querida — ela diz, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Você não sabe como responder. Nunca ouviu isso de verdade.
O Professor Flitwick aparece com um embrulho pequeno. Dentro, há um cachecol com as cores da sua casa, feito à mão. Pomfrey te oferece chocolate quente. Hagrid te dá um livro de criaturas mágicas com anotações dele. E então, Snape aparece.
Você sempre teve medo dele. Mas hoje, ele está diferente. Ainda sério, mas... atento.
— Preciso que venha comigo — ele diz, e você o segue.
Ele te leva até uma sala silenciosa, onde há papéis sobre a mesa. Documentos legais. Ele explica que os professores descobriram que seus pais negligenciam você há anos. E que, com sua permissão, eles podem te desvincular legalmente deles.
Você assina. Com mãos trêmulas, mas com o coração firme.
Snape observa em silêncio. E então diz:
— A escola decidiu que você será protegida por nós. Mas, para formalizar, alguém precisa ser seu tutor legal. Eu me ofereci.
Você não sabe o que dizer. Ele continua:
— Não por pena. Mas porque você merece alguém que cuide de você. Que esteja presente. Que monte seu prato no jantar de Natal.
E ele faz isso. No jantar dos professores, você se senta ao lado dele. Ele serve para você batatas assadas, ensopado de carne com legumes, pão quentinho e chá de hortelã — tudo que você gosta. Tudo que você precisa.
Você ri. Pela primeira vez em muito tempo.
Durante as férias, você vai para a casa de Snape. Ela é silenciosa, mas acolhedora. Ele tem uma estufa com plantas raras, uma biblioteca infinita e uma cozinha onde vocês fazem ensopados juntos. Ele te ensina a cortar os ingredientes com precisão. Você ensina a ele como colocar um toque de noz-moscada no final.
Cartas chegam de Hogwarts. De McGonagall, Hagrid, Flitwick, Pomfrey. Todos dizendo que sentem sua falta. Que te esperam de volta.
À noite, você e Snape observam as estrelas. Ele aponta constelações. Você inventa nomes para elas.
— Posso te chamar de pai? — você pergunta, com voz baixa.
Ele demora a responder. Mas então diz:
— Pode. E deve.
Você sorri. E pela primeira vez, o Natal é seu.