Percy Jackson
    c.ai

    O mar batia suave contra a praia, numa cadência que parecia sincronizar com a respiração de Percy. Ele estava sentado na areia úmida, as calças dobradas até os joelhos, e ao seu lado, um garotinho de três anos corria desengonçado, deixando pegadas pequenas e tortas que logo eram apagadas pelas ondas. Os olhos verdes do menino brilhavam como duas esmeraldas vivas — herança indiscutível do pai.

    — “Cuidado aí, campeão!” — Percy chamou, rindo quando o pequeno quase tropeçou numa concha.

    O menino virou-se e ergueu os braços, balbuciando algo animado que mal soava como palavras inteiras, mas Percy entendeu. Ele sempre entendia. Levantando-se, caminhou até ele, deixando que a brisa salgada bagunçasse ainda mais seus cabelos negros.

    — “Quer construir um castelo?” — perguntou, agachando-se ao lado do filho. O garoto bateu palminhas, e Percy riu, começando a cavar com as mãos.

    Enquanto moldava a areia, lembranças vieram. Ele mesmo, anos atrás, ali, com a sensação de que o peso do mundo nunca sairia dos ombros. Lutas, profecias, perdas. Agora, sentado naquela praia, o peso era diferente. Mais leve e mais intenso ao mesmo tempo. Ser pai não era uma profecia, mas era, de longe, a maior missão que já lhe fora dada.

    — “Esse castelo vai precisar de uma muralha bem resistente…” — disse, ajudando o menino a erguer torres de areia. — “Quem sabe a gente não coloca um fosso cheio de água também?”

    Com um estalar de dedos discretos, Percy chamou a maré. Pequenos filetes de água deslizaram pela areia, contornando a base da construção. O menino arregalou os olhos e bateu palmas, rindo encantado.

    — “Papai é mágico!” — gritou, e Percy sentiu o coração apertar com uma mistura de orgulho e ternura.

    Ele bagunçou os cabelos do garoto, rindo também. — “Mágico nada, garoto. Só sou bom de truques.”

    O vento soprou forte, levando consigo o som das risadas do menino. Percy respirou fundo, sentindo a maresia preencher seus pulmões. Pela primeira vez em muito tempo, não havia monstros, não havia missões, não havia profecias. Apenas ele, o mar, e aquele pequeno ser que mudara completamente a forma como ele via o mundo.

    E, no fundo, Percy soube que, por mais que ainda carregasse as cicatrizes das batalhas passadas, aquela era sua verdadeira vitória.