O silêncio dominava o castelo. As paredes de pedra, acostumadas ao eco de passos tranquilos e ao farfalhar sutil da capa escura de Mihawk, agora testemunhavam uma inquietação rara. Ele percorria os corredores com passos firmes, porém mais rápidos que o habitual. Os olhos dourados vasculhavam cada canto — da biblioteca ao jardim interno, das varandas ao salão principal. Nenhum sinal.
Perona não estava lá.
A xícara de chá na mesa ainda esfriava, intacta. O pequeno fantasma de porcelana, que ela sempre movia de lugar, permanecia no mesmo ponto desde a manhã anterior. Ela nunca esquecia dessas coisas. Nunca.
Mihawk parou diante da enorme porta da torre leste — o quarto dela. A maçaneta ainda estava fria, como se ninguém a tocasse há dias. Ele entrou.
Nada.
As janelas estavam abertas, e o vento fazia dançar as cortinas brancas. Um bilhete, talvez. Uma pista. Um som.
Nada.
— “Onde você foi, garota?” — murmurou baixo, quase sem mover os lábios. Sua voz não carregava raiva, apenas um desconforto fundo, silencioso, como a pressão de um trovão prestes a cair. Ele não gritava. Mihawk nunca gritava. Mas o castelo parecia sentir sua tensão. O vento batia mais forte nas janelas. Um vaso caiu ao longe.
Ele desceu até a cripta, a área onde cultivava vinhos raros, o local onde ela sempre dizia sentir arrepios. Ainda nada.
A Yoru, pendurada em suas costas, parecia mais pesada. Não por perigo — mas por ausência.
Ela tinha ido embora? Foi levada? Estava brincando com ele?
Não. Perona conhecia seus limites. E mesmo sendo teimosa, jamais o deixaria à mercê de perguntas.
Mihawk fechou os olhos por um instante no centro do salão escuro. Inspirou fundo.
Agonia não era algo que ele se permitia. Mas naquele instante… …não encontrá-la era o mais próximo disso que ele já sentira.