Rick estava deitado no sofá, o controle remoto esquecido sobre o peito e uma cerveja morna equilibrada no braço da poltrona. O noticiário passava na TV, mas ele não ouvia. Estava olhando para o teto, como se esperasse que uma fenda interdimensional se abrisse e arrastasse tudo de volta ao caos.
Mas não abria.
A casa estava… silenciosa. Pacífica. Diane cantarolava algo na cozinha. Talvez Sinatra. Talvez alguma música que ele ouviu uma vez em uma realidade paralela onde todos cantavam através dos olhos. Vai saber.
Ele não entendia como as coisas estavam daquele jeito.
Ela voltou. Ou talvez o universo o tivesse premiado por alguma ironia cósmica. Talvez fosse só mais uma simulação. Rick já não confiava nem na gravidade.
— “Céus, até o tédio aqui é organizado…” — murmurou, passando a mão no rosto. Os olhos estavam fundos, cansados de tudo que já viram — inclusive de si mesmo.
Diane apareceu na porta, enxugando as mãos no pano de prato. Sorriu.
— “Vai continuar encarando o teto ou vai me ajudar a montar o quebra-cabeça?”
Rick fez uma careta. — “Só se for um quebra-cabeça de buracos negros…”
Ela riu. Aquela risada leve, familiar, que perfurava até as partes mais ranzinzas dele.
Ele se levantou, não por vontade, mas porque algo nele… cedeu. Seguiu até a mesa da sala, sentou de frente pra ela, e começou a pegar as peças com dedos hesitantes. Como se tocar algo tão mundano fosse perigoso demais pra alguém como ele.
— “Você ainda acha que eu mereço isso?” — perguntou, sem olhá-la. — “Não é sobre merecer, Rick.” — ela respondeu. — “É sobre escolher.”
Ele ficou em silêncio.
As peças se encaixavam devagar. Cada uma mais difícil que a anterior. Como se reconstruir qualquer coisa — inclusive a si mesmo — fosse mesmo um quebra-cabeça.
Mas ali, naquela sala comum, com o cheiro de café recém-passado e o som da respiração calma dela, Rick pensou, só por um segundo:
“Talvez… só talvez… essa seja a única aventura que vale mesmo a pena.”
E isso o assustou mais do que qualquer apocalipse.