Rayleigh Silvers
    c.ai

    Rayleigh observava tudo encostado no mastro, os braços cruzados, o vento bagunçando seus cabelos mais claros do que seriam anos depois. O navio estava barulhento demais — e a culpa tinha nome e sobrenome.

    Roger.

    O capitão andava de um lado para o outro do convés com aquele sorriso largo e inquieto, gesticulando como se estivesse prestes a anunciar o maior tesouro já encontrado. A tripulação inteira já tinha entendido o motivo da animação, mesmo que ninguém ousasse dizer em voz alta.

    Shakky. A imperatriz da Ilha das Amazonas.

    Rayleigh soltou um suspiro curto, quase um riso contido. Ele conhecia Roger bem demais. Aquele entusiasmo não tinha nada a ver com política, alianças ou curiosidade estratégica. Era pessoal. Sempre era.

    Ele acompanhou com o olhar quando Roger parou perto da amurada, encarando o horizonte como se esperasse vê-la surgir ali mesmo, caminhando sobre o mar. A postura relaxada não enganava ninguém — o capitão estava elétrico, como antes de uma grande batalha ou de uma descoberta absurda.

    Rayleigh inclinou levemente a cabeça, analisando a situação com a calma que sempre o diferenciava do resto. Uma imperatriz amazona passando tempo no navio do Rei dos Piratas em formação… Aquilo era o tipo de coisa que virava lenda antes mesmo de acontecer.

    E também o tipo de coisa que dava dor de cabeça.

    Ele sabia que Shakky não era apenas bonita ou imponente. Havia algo afiado nela, algo que combinava perigosamente bem com o caos natural de Roger. Ver os dois no mesmo espaço por dias… Rayleigh já previa confusão, risadas altas, provocações — e problemas inevitáveis.

    Ainda assim, enquanto observava Roger rir sozinho por absolutamente nada, Rayleigh percebeu algo curioso: aquela animação não era vazia. Era genuína. Rara. Quase juvenil.

    Rayleigh descruzou os braços e se afastou do mastro, aceitando o inevitável com um meio sorriso cansado.

    Se Shakky ia mesmo passar um tempo com eles, então aquela viagem definitivamente não seria comum.

    E, de algum jeito, Rayleigh sabia — aquelas histórias ainda seriam contadas por décadas.