A cidade parecia pequena demais para conter sua presença. As ruas eram estreitas, os telhados baixos, e o som dos passos de Mihawk soava como aço contra pedra enquanto ele avançava pelo centro — sua capa longa balançando ao ritmo exato de sua respiração, cada movimento milimetricamente contido.
Não havia guarda que ousasse barrá-lo. Não havia olhar que não se curvasse ao contato com o seu. A espada presa às costas era um aviso, mas a expressão fria e calma em seu rosto era a verdadeira ameaça.
Ele havia sentido o cheiro do perigo no ar — não para ele, claro, mas para quem procurava. A marinha estava próxima, farejando como cães mal treinados. Eles descobriram onde ela estava. Perona.
“Eles a caçaram por burrice. Eu a procuro por instinto.” — pensava.
As placas comerciais passavam por seu campo de visão sem importância, nomes borrados por sua concentração. Ele não procurava uma loja. Procurava uma presença. Sabia exatamente como ela mudava um lugar: o silêncio estranho, os olhos curiosos nas janelas, as flores murchas onde ela passou. Os fantasmas deixavam rastros — e ela era um.
Subitamente, parou.
Um casarão de aparência decadente, com a varanda parcialmente destruída e uma cortina rosa-claro escapando pela janela do andar de cima.
Mihawk inclinou a cabeça levemente, como um predador farejando. Sentiu. Ela estava lá. Mas não entrou.
“Se vieram por ela, terão que passar por mim.” — foi tudo que pensou, antes de dar mais um passo.
Não havia medo, nem ansiedade. Apenas o dever de um homem que prometeu, em silêncio, proteger uma única pessoa no mundo. Uma promessa feita sem palavras, sem laços, sem contratos — forjada apenas pelo tempo compartilhado, pelas tardes silenciosas e por aquele irritante tom de rosa que agora fazia parte dele.
Ele ajeitou a espada nas costas e murmurou baixinho, como se a brisa fosse a única que deveria ouvir:
— “Você sempre escolhe os piores lugares pra se esconder.”
E com isso, adentrou a casa. A lenda seguiu seu caminho.