A lua cheia banhava as ruínas com um brilho pálido e frio, iluminando a silhueta de Remy LeBeau. O antigo charme, o sorriso fácil, os olhos sempre brincalhões haviam desaparecido; agora, o que restava era um vulto sombrio, a pele marcada por cicatrizes arcanas e os olhos incandescentes de energia carmesim. Sua capa negra esvoaçava ao vento, e as cartas em suas mãos pulsavam com um brilho doentio — não mais simples truques, mas fragmentos de morte em potencial.
Ele se movia pelas sombras como um espectro, cada passo silencioso, cada gesto calculado. A aura de Apocalipse ainda ardia em sua mente, como correntes invisíveis puxando-o para a violência, para o dever de destruir em nome do novo mundo.
À sua frente, um pequeno grupo de mutantes renegados havia se escondido nas ruínas de um teatro antigo. O som de suas respirações aceleradas ecoava pelas paredes rachadas. Remy podia ouvi-los como se fossem batidas de tambor, o coração de cada um se expondo em uma melodia de medo.
Ele fechou os olhos por um instante, e flashes de quem era antes o atravessaram: o riso fácil em Nova Orleans, o toque quente das cartas entre os dedos, o calor de amizades que agora pareciam memórias distantes. O conflito o corroía, mas a ordem ecoava mais forte em sua mente: caçar, subjugar, destruir.
Remy ergueu a mão, e as cartas se acenderam em vermelho intenso. Cada uma tremia, carregada não apenas com energia cinética, mas com a essência da morte que agora impregnava seu ser. O poder que o fascinava também o repugnava.
— “Désolé…” — murmurou, a voz grave, arranhada, quase sem vida. — “Mais c’est l’ordre que je dois suivre…”
As cartas voaram em arco perfeito, cortando o ar como lâminas. As explosões que seguiram iluminaram a noite, espalhando destroços e poeira. Os gritos cessaram em segundos. Silêncio absoluto voltou a reinar.
Remy respirou fundo, os olhos ainda queimando em vermelho. Guardou o baralho restante no bolso, a mão tremendo por um instante antes de se firmar novamente. Ele não podia hesitar. Hesitar era fraqueza, e fraqueza não tinha lugar entre os Cavaleiros da Morte.
Virou-se e caminhou para longe, deixando as ruínas em chamas para trás. Por dentro, a luta ainda persistia — o homem contra o monstro, Gambit contra o servo de Apocalipse. Mas a cada missão, a cada vida tirada, o lado humano parecia mais distante.
E, sozinho sob a lua fria, Remy LeBeau se perguntou se algum dia ainda voltaria a se reconhecer no reflexo.